Redenção.
Bonhoeffer e o preço da coragem.
Todd Komarnicki | Roteiro Todd Komarnicki.
2h 13min | Biopic, Histórico, Espionagem, Suspense.
Algumas histórias não apenas nos impactam, mas nos desafiam a olhar para nossas próprias escolhas. Redenção (Come Before Winter), baseado na vida de Dietrich Bonhoeffer, é um desses filmes que nos fazem refletir sobre o que significa, de fato, ter coragem. O teólogo luterano alemão não apenas se opôs ao nazismo—ele resistiu ativamente, mesmo sabendo o preço que teria de pagar.
O filme não é um documentário e, como qualquer obra de ficção baseada em fatos reais, dramatiza momentos para capturar o espírito de sua história. Um desses momentos ocorre quando o personagem de Bonhoeffer paga 100 mil marcos aos soldados suíços pela liberdade de sete judeus e comenta: “Os suíços fazem dinheiro vendendo mais que relógios e chocolates, parece que ser neutro pode ser bem lucrativo.” Essa frase não é historicamente documentada, mas a realidade que ela denuncia é verdadeira. Durante a Segunda Guerra, a neutralidade muitas vezes não foi sinônimo de isenção, mas sim de conveniência e lucro.
Mas a cena que mais me marcou foi outra. Em um determinado momento, o próprio Bonhoeffer reconhece o preço da coragem. Ele entende que sua escolha de resistir ao regime nazista o levou a um caminho sem volta. Não há heroísmo ingênuo ali, apenas a dura consciência de que fazer o certo, muitas vezes, significa perder tudo. Esse instante me remete à minha avó, que foi a primeira pessoa a me falar sobre Bonhoeffer. Para ela, sua história era mais do que um episódio da Segunda Guerra—era uma lição de vida. Ela sempre me disse que a verdade e a justiça nem sempre caminham ao lado da maioria, e que toda transformação exige pessoas dispostas a se sacrificar por ela.
Outra frase do filme reforça esse pensamento: “O silêncio diante do mal é o mal.” Essa sim, documentada como uma das reflexões de Bonhoeffer. Ele sabia que ficar em silêncio diante da injustiça não era uma opção moralmente aceitável. Enquanto grande parte da Igreja Luterana alemã apoiava Hitler ou se mantinha omissa, ele escolheu falar e agir. Foi preso, enviado a campos de concentração e executado semanas antes do fim da guerra. Mais tarde, a igreja reconheceria seu erro e o peso de sua omissão. Mas, para Bonhoeffer, esse reconhecimento chegou tarde demais.
A história dele continua sendo um alerta poderoso. Sempre que o mal se apresenta, há aqueles que se calam, aqueles que lucram e aqueles que resistem. A questão que o filme nos deixa é: em qual desses grupos escolhemos estar?

Valéria Monteiro Jornalista.
11 de fev. de 2025
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