O Brasil gera muito, recicla pouco e ainda importa lixo.
Quem vai assumir a conta do que jogamos fora?

Lixo Sem Pátria.
O descarte que ninguém quer assumir. Nem ver voltar.
No Brasil, jogar lixo fora é quase um rito de esquecimento. Enfia-se tudo no saco, amarra-se com força e leva-se até a calçada. A partir daí, o lixo vira problema de outro — ou de ninguém. Some da vista, mas não do mundo.
Vivemos cercados por resíduos sem destino certo, órfãos de política pública, de rastreabilidade e de vontade. Nosso lixo não tem pátria — e talvez por isso continue voltando para nos assombrar.
🎥 O alerta da BBC
A BBC lançou recentemente um documentário contundente:
👉 Recycling: Where Does My Rubbish Go?
A investigação revela como países desenvolvidos — em vez de reciclarem de fato — exportam seus resíduos para nações menos preparadas, sob a aparência enganosa de sustentabilidade.
Embora o foco esteja no Reino Unido, o espelho que ele oferece serve perfeitamente ao Brasil: geramos muito, reciclamos pouco e ainda importamos resíduos que mal conseguimos processar.
🇧🇷 Um gigante que mal trata o próprio lixo
• Produção anual: 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos
• Destino inadequado: 38% vai parar em lixões ou aterros precários
• Coleta seletiva: presente em apenas 6,4% dos municípios
• Taxa real de reciclagem: menos de 4%
🚢 O paradoxo da importação
Mesmo com infraestrutura frágil, o Brasil importou 28 mil toneladas de resíduos apenas nos primeiros cinco meses de 2024. Alegam uso industrial, mas muitos desses materiais chegam sem valor real de reaproveitamento — ou mesmo contaminados.
Enquanto isso, as cooperativas de catadores, responsáveis por mais de 90% da reciclagem real no país, seguem invisibilizadas e subfinanciadas.
🧴 Um mar de plástico
• Produzimos: 11 milhões de toneladas de plástico/ano
• Reciclamos: apenas 1%
• Entre os 16 maiores poluidores marinhos por plástico no planeta
• Microplásticos já foram detectados em peixes, sal e até na água potável
💻 Lixo eletrônico: risco e desperdício
• Geração: 11,4 kg por pessoa/ano
• Reciclagem formal: apenas 3%
• Contaminação por chumbo, cádmio, mercúrio
• Pouco controle, quase nenhuma política de logística reversa
⚠️ O lixo volta: em forma de doença, enchente, custo
“O SUS gastou cerca de R$ 10 bilhões entre 2016 e 2021 com doenças ligadas a resíduos descartados de forma inadequada.”
— Fonte: Fiocruz
O que descartamos volta como tragédia urbana, como crise sanitária, como despesa pública. Nada realmente desaparece —tudo muda de forma.
✅ O que podemos (e devemos) fazer
• Cobrar políticas públicas estruturadas
• Investir e apoiar cooperativas de catadores
• Separar o lixo com responsabilidade
• Reduzir consumo de descartáveis
• Pressionar por regras mais rígidas na importação de resíduos
✍️ Conclusão
O lixo não tem pátria. Mas ele sempre volta.
Como fantasma político, como veneno ambiental, como espelho do que não queremos ver.
Ignorar o problema é perpetuar a conta.
