top of page

O preço do sol:

Por que, mesmo com a COP 30 impulsionando as renováveis, sua conta de luz não cai.

O preço do sol:
Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR.

A COP 30 abriu reforçando aquilo que o mundo científico já sabe: apostar em energias renováveis não é mais uma escolha — é uma necessidade existencial para o planeta.
O avanço da solar e da eólica é essencial para conter o aquecimento global, reduzir emissões, proteger florestas e evitar uma crise climática irreversível.

(to scroll down for English version ↓)

Mas, no dia a dia das pessoas, há um segundo impulso — tão real quanto legítimo:
a esperança de ver a conta de luz finalmente diminuir.

E aí está o choque entre expectativa e realidade:
mesmo com a expansão recorde da energia limpa, a conta do brasileiro continua subindo.



☀️ O planeta precisa das renováveis. O consumidor quer economia. O sistema não entrega nenhuma das duas coisas como deveria.

A energia solar e a eólica são hoje as fontes mais baratas do mundo.
É por isso que a COP 30 as coloca como centro da transição energética global.
Mas o Brasil ainda não transformou essa abundância em benefício direto para quem paga a conta.

Por quê?

Porque o modelo tarifário continua operando como se a energia fosse sempre igual, o dia inteiro, todos os dias.
E como se ninguém produzisse sua própria energia.

Quando alguém instala painéis solares, diminui o consumo da rede.
Mas os custos fixos — postes, transformadores, manutenção — permanecem.

Esses custos acabam sendo divididos entre um número menor de consumidores.
Resultado: quem não tem energia solar paga mais, e quem tem paga menos — mas não o suficiente para derrubar a conta de forma estrutural.



⚙️ A COP exige justiça climática — e o Brasil começa, devagar, a ajustar a justiça tarifária

A Lei 14.300 foi um primeiro passo na direção de um sistema mais justo, ao criar o pagamento parcial pelo uso da rede (o Fio B) para quem injeta energia solar.
É o início de um equilíbrio necessário: todos usam a rede, todos devem ajudar a financiá-la.

Mas ainda estamos longe do modelo ideal.
Para transformar energia limpa em conta mais baixa, o Brasil precisa modernizar sua tarifa para refletir:
• quando a energia é gerada,
• onde ela é consumida,
• quanto custa manter a rede funcionando 24h,
• e como integrar milhões de pequenos geradores sem injustiça tarifária.

Sem isso, ficamos presos ao paradoxo:
renováveis baratas + tarifa alta = frustração coletiva.



🌬️ Solar e eólica: complementares, mas com impactos diferentes na conta

☀️ Solar

Produz energia durante o dia, principalmente ao meio-dia.
É gerada majoritariamente em telhados residenciais e comércios, conectados à distribuição — justamente o elo mais caro da rede.

🌬️ Eólica

Produz à noite, quando o consumo continua alto.
É gerada em grandes parques, conectados à transmissão — e por isso quase não interfere no custo da tarifa residencial.

A COP 30 reforça o que especialistas já sabem: a complementaridade entre sol e vento é uma força do Brasil.
Mas esse potencial não se traduz em economia enquanto o modelo de cobrança permanecer desatualizado.



⚡ Por que sua conta não baixa — mesmo com energia limpa sobrando?

Porque a sua conta inclui mais do que energia:
• Rede elétrica (a parte mais cara da conta)
• Encargos setoriais
• Subsídios cruzados
• Impostos
• Perdas técnicas

E porque a rede precisa funcionar o tempo todo — mesmo quando a energia solar “tira folga” à noite.



🧭 O que o Brasil precisa fazer agora — e que a COP 30 deixa explícito

Para unir o interesse global (salvar o planeta) ao interesse individual (baixar a conta), o país precisa:
1. Cobrar energia por horário — mais barata quando há sol e vento, mais alta quando a demanda aperta.
2. Separar claramente energia e rede na fatura, para acabar com os repasses invisíveis.
3. Estimular baterias e armazenamento, que permitem aproveitar a energia solar à noite.
4. Expandir a solar comunitária, para que quem mora em apartamento ou periferia também economize.
5. Transparência total: mostrar claramente quanto a geração distribuída ajuda e quanto custa.

Isso é transição justa — conceito central da COP 30.
Sem justiça tarifária, a transição energética fica incompleta.



🌞 O verdadeiro preço do sol

A energia renovável não é cara.
O sol não é o vilão.
O vento não é o vilão.

O que ainda está caro — e injusto — é o modelo que cobra uma energia limpa como se ela fosse suja, rara e previsível.

Se o Brasil alinhar tarifa, rede e justiça social, o “preço do sol” finalmente aparecerá:
na redução da conta, e não no aumento — como o consumidor espera, e como o planeta precisa.



The Price of Sunshine: Why, Even as COP 30 Pushes Renewables, Brazil’s Electricity Bills Won’t Drop

COP 30 opened with a clear global message:
renewables are no longer optional — they are essential for the planet’s survival.

But for most people, the motivation is also personal:
to lower their electricity bill at home.
And in Brazil, that simply isn’t happening.



☀️ Renewables are cheap. Tariffs are not.

Solar and wind are now among the cheapest energy sources in the world.
COP 30 highlights them as key tools of the global energy transition.

But Brazil’s tariff structure still fails to deliver these benefits to consumers.

Rooftop solar reduces grid consumption —
yet the grid still needs to be maintained, repaired, expanded, and kept running 24/7.
Fewer people paying for it means non-solar households shoulder more of the cost.



⚙️ Brazil began to adjust — slowly

Law 14.300 created the “Fio B” charge, ensuring solar producers contribute to grid costs.
It’s a necessary correction — but only the beginning.

Brazil still needs hourly pricing, location-based tariffs, and modern grid rules to make renewable energy fair and affordable.



🌬️ Solar and wind: complementary, not interchangeable

Solar = daytime, distributed, tied to retail tariffs.
Wind = nighttime, utility-scale, tied to wholesale prices.

Both are essential for climate goals —
but only one directly impacts the residential bill.



⚡ Why bills stay high anyway

Because bills include the grid, taxes, fees, inefficiencies —
not just the cost of generating electricity.



🧭 What COP 30 says Brazil must do

* Introduce time-of-use pricing
* Unbundle grid and energy charges
* Invest in storage
* Expand community solar
* Publish transparent data



🌞 The real price of sunshine

Sunlight is not expensive.
Bad design is.

If Brazil adopts the reforms aligned with COP 30’s principles, the sunshine will be felt not only in the sky —
but in a lighter electricity bill.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

13 de novembro de 2025

Leia Também

Cozinha, banheiro e lavanderia:

Como a forma de lavar tecidos domésticos impacta diretamente a saúde.

Gelatina: o doce simples que desperta memórias por Valéria Monteiro.

Gelatina:

O doce simples que desperta memórias.

bottom of page