Hannah Arendt:
Por que reler agora quem já sabia o que está por vir.
▍Um alerta do presente que ecoa o passado.
Na semana passada, um artigo publicado no New York Times fez o mundo tremer — ou ao menos deveria ter feito.
Com o título
“I’m a Genocide Scholar. I Know It When I See It”
(“Sou um estudioso de genocídios. Eu sei quando vejo um”),
o historiador Omer Bartov, professor de Brown e especialista no Holocausto, declarou publicamente que o que Israel está fazendo em Gaza não é apenas um conflito trágico: é genocídio.
Bartov não é ativista, nem político. É judeu, nascido na Alemanha, e conhece profundamente os horrores que a palavra “genocídio” carrega.
Por isso suas palavras soam como um grito ético que não pode mais ser ignorado.
Mas para quem já leu Hannah Arendt, talvez esse alerta soe como uma confirmação amarga.
▍A atualidade de uma pensadora incômoda
Hannah Arendt, também judia alemã, fugiu do nazismo e passou a vida tentando entender como o mundo pôde permitir os horrores do século XX.
Ela não escreveu sobre Gaza — morreu em 1975.
Mas escreveu sobre o que Gaza representa hoje:
a redução do ser humano a um corpo descartável.
Em Origens do Totalitarismo (1951), ela analisa a situação dos apátridas — pessoas sem pátria, sem representação, sem direitos.
Ela os chamou de
“aqueles que perderam o direito de ter direitos”.
Os palestinos em Gaza vivem exatamente essa condição:
bloqueados, sitiados, invisíveis diante das potências,
vivendo a precariedade como destino imposto.
▍A banalidade do mal — ainda entre nós
No julgamento de Adolf Eichmann, Arendt cunhou a expressão que a tornou célebre e controversa:
“A banalidade do mal”.
Eichmann não era um monstro, dizia ela. Era um homem comum, um burocrata que cumpria ordens sem pensar.
O mal, muitas vezes, não grita — apenas obedece.
Hoje, quando mísseis são lançados sobre hospitais e tendas de refugiados sob justificativas técnicas, e quando o sofrimento de um povo é tratado como estatística, a banalidade do mal volta a caminhar — agora, vestida de estratégia militar.
▍A arte e a cultura precisam lembrar da filosofia
Este blog é sobre cultura, arte, pensamento. Mas, diante do silêncio institucional e da barbárie escancarada,
também é um espaço de vigília e responsabilidade.
Recomendar Hannah Arendt hoje é mais do que sugerir uma leitura filosófica.
É um convite à lucidez.
É um chamado à consciência crítica.
É uma forma de lembrar que o passado nos deixou ferramentas — e não desculpas.
▍Por onde começar a ler Hannah Arendt?
📘 Origens do Totalitarismo
Sobre como regimes transformam grupos inteiros em sub-humanos.
📗 Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal
A análise de um julgamento que revelou o rosto ordinário do horror.
📙 Entre o passado e o futuro
Ensaios sobre crise, responsabilidade, política e pensamento.
▍Uma frase para hoje:
“Mesmo em tempos sombrios, temos o direito de esperar alguma iluminação.”
— Hannah Arendt
▍Referência:
📄 Omer Bartov, “I’m a Genocide Scholar. I Know It When I See It”, The New York Times, 15 de julho de 2025.
🔗 Leia aqui (NYT – para assinantes)

