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Amazônia em Obras:

O Brasil no Centro do Debate Ambiental Global.

 Amazônia em Obras:

No Dia Mundial do Meio Ambiente, em pleno 2025, o Brasil está sob os holofotes. Sediar a COP30, conferência mais importante do planeta sobre a crise climática, é uma honra e também um espelho: revela nossos acertos, mas principalmente nossas contradições.

A escolha de Belém do Pará como sede do evento é, em si, simbólica. Pela primeira vez, a Conferência do Clima acontece no coração da Amazônia — e isso não é pouca coisa. A floresta tropical mais biodiversa do planeta, uma das maiores reservas de carbono do mundo, finalmente é colocada no centro do debate internacional. Mas a pergunta que ecoa, antes mesmo dos discursos oficiais, é: estamos preparados para representar o que a Amazônia realmente significa?

🌧️ Floresta não é pulmão. É equilíbrio.

Vamos deixar um ponto claro. A Amazônia não é o “pulmão do mundo”. Essa ideia, ainda muito repetida, não resiste à análise científica. O oxigênio produzido pela floresta é praticamente consumido por ela mesma — entre fotossíntese, respiração e decomposição.

O que a Amazônia oferece ao planeta vai muito além do oxigênio: ela regula o ciclo das águas, estabiliza o clima, armazena carbono, abriga culturas ancestrais e guarda soluções que nem conhecemos ainda. Preservá-la não é uma escolha. É uma condição de sobrevivência.

🚜 O paradoxo da COP30

Apesar de toda essa importância, há algo de profundamente incoerente na forma como o Brasil está se preparando para a COP30. Em Belém, uma estrada de quatro faixas chamada “Avenida Liberdade” está sendo aberta em plena área de floresta. A justificativa é a melhoria da mobilidade para o evento. O custo? Quilômetros de vegetação nativa e novas frentes de desmatamento abertas.

Essa contradição — organizar uma conferência sobre o clima devastando a própria floresta — expõe o dilema de fundo: o velho modelo de desenvolvimento ainda dita as regras, mesmo quando se pinta de verde.

E o problema não está apenas no asfalto. O Pará também aprovou leis que afetam diretamente a educação indígena e ribeirinha, trocando ensino presencial por educação a distância em comunidades onde nem a internet chega direito. Ou seja, o estado que vai abrigar o maior debate climático da década começa a conferência negando os direitos de quem mais entende de floresta.

🌍 O que está em jogo

A COP30 será, mais do que nunca, um teste de coerência. Para o Brasil e para o mundo. A hora dos discursos bonitos passou. O planeta precisa de compromissos firmes, prazos, metas e — principalmente — ações locais com impacto global.

O Brasil tem protagonismo para liderar essa transformação, mas isso exige mais do que marketing verde. Exige decisões corajosas, que enfrentem interesses econômicos enraizados, valorizem o saber tradicional e priorizem a vida — em vez da aparência.

✊ O que podemos fazer?

No Dia Mundial do Meio Ambiente, mais do que plantar uma árvore ou apagar a luz por alguns minutos, precisamos plantar lucidez. E acender o debate.
• Questione decisões políticas que contradizem o discurso climático.
• Apoie projetos que unem justiça ambiental, ciência e protagonismo comunitário.
• Dê voz a quem vive da floresta e por ela.

A Amazônia não precisa de homenagens. Precisa de respeito. E o planeta, sinceramente, também.



Você gostou deste artigo? Compartilhe com quem ainda acha que a floresta é um detalhe verde no mapa. E lembre-se: cada clique, cada escolha e cada silêncio também deixam marcas no solo.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

5 de jun. de 2025

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