top of page

As mentiras que voltam com o calor:

A temporada das fake news climáticas.

As mentiras que voltam com o calor:

Foto: Diego Herculano

À medida que a COP30 se aproxima, reacendem-se as narrativas que tentam desacreditar a ciência, confundir a opinião pública e paralisar as soluções. Mas o planeta não espera — e o Brasil, anfitrião da conferência, tampouco pode.

(scroll down for English version)



O calor não vem sozinho. Com a proximidade da COP30, que colocará o Brasil no centro das discussões globais sobre o clima, ressurgem com força as velhas narrativas travestidas de novidade: as que dizem que o problema não é tão grave, que as soluções custam demais, que o futuro é uma ilusão vendida por elites distantes.

Dessa vez, a estratégia não é negar a mudança climática. É duvidar de quem tenta enfrentá-la. É desacreditar a transição energética, desmoralizar a cooperação internacional, confundir o público sobre o que está em jogo. É a fase dois da desinformação climática — menos negacionismo, mais manipulação.



A negação que se reinventa

O novo discurso não ataca os termômetros, mas as soluções. Diz que energia eólica e solar não funcionam, que “a economia verde vai quebrar o país”, que “a Amazônia precisa ser explorada para gerar riqueza”. A tática é sofisticada: ao trocar o negacionismo científico por um “realismo econômico” de fachada, tenta parecer racional — e, assim, ganhar corações cansados da retórica ambiental.

Segundo o International Panel on the Information Environment, a desinformação sobre o clima “está transformando uma crise em catástrofe”. As redes que alimentam essas mentiras vão além de interesses fósseis: misturam populismo, campanhas de influência digital e, não raro, discursos antiinstitucionais.



O Brasil no epicentro

Ser sede da COP30 é um privilégio — e uma responsabilidade. O país terá diante de si uma vitrine, mas também um espelho. Como anfitrião, o Brasil será testado: não apenas por suas metas ambientais, mas pela capacidade de sustentar um debate público livre da lama da desinformação.

E aqui está o desafio: parte dessas fake news nasce dentro do próprio país, impulsionada por grupos que veem na confusão uma forma de poder. São mensagens que apelam à emoção e ao medo, repetidas até parecerem verdade.



O perigo do cansaço

O efeito é corrosivo. Quando tudo parece mentira, nada mais importa. A desinformação não quer vencer o argumento científico — quer dissolver a confiança. Quer fazer crer que não há saída, que todos mentem, que agir é inútil. É o cansaço como ferramenta política.

Mas o clima não cansa. As temperaturas extremas, os rios que secam e os temporais que arrastam cidades não esperam que a política se resolva. O planeta está reagindo. Cabe a nós reagir também.



A resposta possível

A comunicação é parte da solução. Precisamos falar de clima de forma acessível, concreta, humana. Mostrar que transição energética é também geração de empregos, inovação, saúde e soberania. Que cuidar do ambiente é, no fundo, cuidar da vida.

Desmascarar as narrativas anticlima não é tarefa de especialistas: é de todos os que acreditam na verdade como bem comum. E, sobretudo, de quem entende que defender o planeta é defender a civilização que nele habita.



🇬🇧 Lies That Rise With the Heat: The Season of Climate Fake News

As COP30 approaches, familiar narratives return — those that seek to discredit science, confuse the public, and paralyze action. But the planet won’t wait — and neither can Brazil, the host of the conference.



The heat never comes alone. With COP30 placing Brazil at the center of global climate discussions, old narratives resurface, dressed in new clothes: those claiming the problem isn’t so serious, that solutions are too costly, that the future is a fiction sold by distant elites.

This time, the strategy isn’t to deny climate change — it’s to cast doubt on those trying to fight it. To discredit energy transition, to ridicule international cooperation, to blur what’s truly at stake. It’s the second phase of climate disinformation — less denial, more manipulation.



The Reinvention of Denial

The new discourse no longer attacks the thermometers — it attacks the solutions. It says wind and solar “don’t work,” that “the green economy will bankrupt the country,” that “the Amazon must be exploited to create wealth.”

This is a more sophisticated tactic: by replacing scientific denial with a façade of “economic realism,” it seeks to appear rational — and to win over hearts weary of environmental rhetoric.

According to the International Panel on the Information Environment, climate disinformation is “turning a crisis into a catastrophe.” The networks spreading these falsehoods go beyond fossil interests: they mix populism, digital influence campaigns, and often, anti-institutional discourse.



Brazil at the Epicenter

Hosting COP30 is both a privilege and a responsibility. The country will stand before the world as both a showcase and a mirror. As host, Brazil will be tested — not only for its environmental goals, but for its ability to uphold a public debate free from the mire of disinformation.

And here lies the challenge: many of these fake news stories are homegrown, driven by groups that see confusion as a form of power. They appeal to emotion and fear, repeated so many times they start to sound like truth.



The Danger of Exhaustion

The effect is corrosive. When everything seems like a lie, nothing matters. Disinformation doesn’t aim to win the scientific argument — it seeks to dissolve trust. To make people believe there’s no way out, that everyone lies, that action is useless. Exhaustion becomes a political tool.

But the climate doesn’t tire. Extreme heat, droughts, and storms that sweep away cities don’t wait for politics to settle. The planet is reacting. It’s our turn to react too.



The Possible Response

Communication is part of the solution. We must talk about climate in a way that is accessible, concrete, and human. To show that energy transition also means jobs, innovation, health, and sovereignty. That caring for the environment is, at its core, caring for life itself.

Unmasking anti-climate narratives is not the task of specialists alone — it belongs to everyone who believes in truth as a common good. And above all, to those who understand that defending the planet is defending the civilization that depends on it.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

10 de nov. de 2025

Leia Também

De quem é Nova York.

Entre despejos e arranha-céus, a eleição de Zohran Mamdani redefine a ideia de cidade — e desafia o capital global.

Interfaces Cérebro–Computador.

O que a pesquisa cerebral realmente significa para a tecnologia movida pelo pensamento.

bottom of page