top of page

Consciência é decidir sair da ignorância.

Por Valéria Monteiro.

Consciência é decidir sair da ignorância.

Consciência é sempre uma escolha e o Dia da Consciência Negra convida a afastar as versões simplificadas da história e olhar para o Brasil de modo mais honesto, mais amplo, mais profundo.
Não para acusar, mas para compreender.
Não para remexer o passado, mas para iluminar o presente.

(scroll down for English version ↓)

Porque, em sua essência, consciência é decidir sair da ignorância — um gesto ativo, interno, deliberado.
É permitir que o que sempre esteve diante de nós finalmente ganhe nitidez.



O Brasil que conhecemos — e o que quase nunca contamos

A narrativa oficial do país foi moldada por luzes e apagamentos.
Por gerações, celebramos obras e conquistas enquanto ocultamos as origens de quem as produziu.

Certos nomes — Rui Barbosa, Castro Alves, Carlos Gomes — foram ensinados como parte do “panteão nacional”, mas quase nunca acompanhados da informação de que tinham ascendência negra.
Isso não é um detalhe biográfico: é uma chave de leitura do país que deixamos de usar.

E, quando ampliamos o olhar, percebemos o óbvio que por muito tempo foi escondido:
a literatura, a música, a ciência, o pensamento social, a religiosidade e a cultura brasileira foram profundamente moldadas por inteligências negras.



E o presente continua a nos lembrar disso

Os debates atuais sobre representatividade, desigualdade, acesso, violência racial e memória não surgem do nada.
São ecos de uma história contada de forma parcial — e de uma sociedade que ainda está aprendendo a enxergar por inteiro.

Quando um país se acostuma a não ver, estranha quando vê.
Mas é justamente esse movimento — lento, constante, necessário — que permite a formação de um Brasil mais coerente consigo mesmo.

O 20 de novembro não exige consenso.
Exige clareza.



Consciência não é peso. É revelação.

Consciência não acusa.
Não divide.
Não constrange.

Consciência amplia.
Ajusta o foco.
Reorganiza as perguntas.

Ela nos convida a refletir:
• Quem ficou de fora da história que aprendemos?
• O que muda quando reconhecemos plenamente quem construiu o país?
• Que país emerge quando iluminamos o que antes era margem?

Perguntas assim não ameaçam.
Fortalecem.

Talvez esse seja o sentido mais profundo deste dia:

entender que a ignorância não é destino — é uma escolha.
E que a consciência também é.

O Dia da Consciência Negra não encerra discussão alguma.
Ele abre uma porta.

E nos devolve duas perguntas essenciais:

O que estamos prontos para ver?
E o que faremos com o que finalmente enxergamos?

A consciência começa exatamente aí — no instante em que decidimos sair da ignorância.



⬇️ ENGLISH VERSION


Consciousness Is the Decision to Step Out of Ignorance



Consciousness is always a choice

Black Consciousness Day invites us to step back from simplified narratives and look at Brazil with a fuller, clearer lens.
Not to accuse, but to understand.
Not to rewrite the past, but to illuminate the present.

At its core, consciousness is the decision to step out of ignorance — an internal, deliberate act of clarity.
A willingness to see what has always been there.



The Brazil we know — and the one we seldom name

For generations, the country celebrated achievements while softening or erasing the origins of those who produced them.

Certain names — Rui Barbosa, Castro Alves, Carlos Gomes — were taught as national icons, but rarely accompanied by the fact that they had Black ancestry.
Not a biographical footnote, but a key to understanding the nation itself.

When we widen the frame, the truth becomes evident:
literature, music, science, social thought, spirituality and culture in Brazil were shaped, in fundamental ways, by Black intelligence and creativity.



And the present continues to reflect this

Today’s debates about representation, inequality, access, racial violence and memory are not isolated issues.
They are consequences of a story told incompletely — and of a society still learning to recognize itself fully.

A country accustomed to not seeing will naturally hesitate when it finally does.
But that hesitation is part of growth.

Black Consciousness Day does not demand unanimity.
It demands clarity.



Consciousness is not a burden. It is revelation.

Consciousness does not shame or divide.
It expands.
It sharpens.
It corrects our questions.

It asks us:
• Who was left out of the history we learned?
• What changes when we finally recognize who built this country?
• What nation emerges when the margins are illuminated?

Such questions strengthen rather than threaten.



Closing

Perhaps this is the deepest purpose of the day:

to understand that ignorance is not fate — it is a choice.
And consciousness is another.

Black Consciousness Day does not close a debate.
It opens a door.

And it places two essential questions before us:

What are we ready to see?
And what will we do with what becomes visible?

Consciousness begins exactly there — in the moment we choose to step out of ignorance.
Voices That Built Brazil



🟦 POLÍTICA, JUSTIÇA & PENSAMENTO SOCIAL

Política, Justiça e Pensamento Social

Luís Gama — advogado autodidata, poeta e libertador.
EN: self-taught lawyer, poet, liberator of enslaved people.

André Rebouças — engenheiro e estrategista da Abolição.
EN: engineer and strategist of the abolition movement.

Abdias do Nascimento — artista, político, fundador do Teatro Experimental do Negro.
EN: artist, politician, founder of the Black Experimental Theater.

Lélia Gonzalez — antropóloga e filósofa do feminismo negro latino-americano.
EN: anthropologist and foundational thinker of Black feminism in Latin America.

Sueli Carneiro — filósofa e referência dos direitos humanos.
EN: philosopher and leading voice in human rights.

Antonieta de Barros — jornalista, educadora e primeira deputada negra do Brasil.
EN: journalist, educator, and Brazil’s first Black woman elected to office.



🟦 ARTES, MÚSICA & LITERATURA

Arts, Music & Literature

Machado de Assis — fundador da literatura brasileira moderna.
EN: founder of modern Brazilian literature.

Maria Firmina dos Reis — autora de Úrsula, primeira obra abolicionista do país.
EN: author of Úrsula, the first Brazilian abolitionist novel.

Carolina Maria de Jesus — autora de Quarto de Despejo, traduzida mundialmente.
EN: globally acclaimed author of Child of the Dark.

Chiquinha Gonzaga — compositora e maestrina pioneira.
EN: pioneering composer and conductor.

Clementina de Jesus — guardiã da memória ancestral afro-brasileira.
EN: guardian of Afro-Brazilian ancestral memory.

Dona Ivone Lara — compositora fundamental do samba.
EN: foundational samba composer.

Itamar Assumpção — um dos pilares da vanguarda paulista.
EN: key figure of Brazil’s musical avant-garde.

Heitor dos Prazeres — artista plástico e sambista modernista.
EN: modernist painter and samba composer.



🟦 CIÊNCIA, EDUCAÇÃO & INOVAÇÃO

Science, Education & Innovation

Enedina Alves Marques — primeira engenheira negra do Brasil.
EN: first Black female engineer in Brazil.

Juliano Moreira — psiquiatra que revolucionou o tratamento mental no país.
EN: psychiatrist who modernized mental health care in Brazil.

Milton Santos — geógrafo de impacto mundial, Prêmio Vautrin Lud.
EN: world-renowned geographer, winner of the Vautrin Lud Prize.

Teodoro Sampaio — engenheiro, geógrafo e cartógrafo.
EN: engineer, geographer, and cartographer.

Henrique Dias — líder militar da Insurreição Pernambucana.
EN: military leader during the Pernambuco Insurrection.



🟦 CULTURA POPULAR, ANCESTRALIDADE & IDENTIDADE

Popular Culture, Ancestry & Identity

Tia Ciata — figura central na origem do samba e da cultura popular carioca.
EN: foundational figure in the creation of samba and Afro-Brazilian culture.

Mãe Aninha (Eugênia Anna dos Santos) — fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá.
EN: founder of the Ilê Axé Opô Afonjá temple.

Mãe Stella de Oxóssi — intelectual e liderança religiosa.
EN: writer and major Afro-Brazilian religious leader.

Mestre Bimba — criador da Capoeira Regional.
EN: creator of Regional Capoeira.

Mestre Pastinha — mestre da Capoeira Angola.
EN: guardian of Capoeira Angola.

Zumbi dos Palmares — líder quilombola, símbolo da resistência.
EN: legendary maroon leader and symbol of resistance.

Dandara — estrategista e guerreira do Quilombo dos Palmares.
EN: strategist and warrior of the Palmares quilombo.



🟦 NOMES QUE A HISTÓRIA MOSTROU — MAS NÃO CONTOU POR INTEIRO

Names History Revealed — but Never Fully Told

Personalidades consagradas cuja ascendência negra foi apagada das narrativas oficiais por décadas:

Rui Barbosa, Castro Alves, Carlos Gomes
EN: Prominent figures whose Black ancestry was historically obscured.

✦ Observação editorial

Este quadro não pretende esgotar a contribuição negra à história brasileira — seria impossível — mas oferecer um mapa de referência que ajude o leitor a conectar nomes, áreas e contextos.
Um convite para aprofundar, não para concluir.

✦ Editorial Note

This chart does not aim to exhaust the scope of Black contributions to Brazilian history — that would be impossible — but to offer a reference map that helps readers connect names, fields, and contexts.
An invitation to deepen the understanding, not to conclude it.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

20 de nov. de 2025

Leia Também

Eugenia 2.0.

A política da exclusão muda de linguagem, não de propósito.

Interfaces Cérebro–Computador.

O que a pesquisa cerebral realmente significa para a tecnologia movida pelo pensamento.

Comentários
Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicionar avaliação
Compartilhe sua opiniãoSeja o primeiro a escrever um comentário.
bottom of page