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Gaza, a fome como arma:

Quando a barbárie se torna política de Estado.

Gaza, a fome como arma:

Créditos: IRNA.

É difícil encontrar palavras que traduzam o horror que se tornou cotidiano na Faixa de Gaza. Imagens de crianças esqueléticas, corpos famintos, olhos sem brilho, embrulham o estômago e rasgam a alma. São rostos que a comunidade internacional insiste em ignorar. São vítimas que morrem em silêncio, sob o peso da fome, da sede, do abandono — e da covardia.

A inanição, neste momento, não é consequência colateral de uma guerra. É estratégia. A redução drástica nas entregas de alimentos e medicamentos, aliada ao bloqueio imposto por Israel e aos ataques deliberados durante as distribuições de ajuda humanitária, transformaram a fome em uma arma de controle e extermínio.

Em múltiplas ocasiões, como denunciam agências humanitárias, civis desesperados que se aglomeram em torno de caminhões com comida são mortos antes mesmo de alcançar algum alívio. Muitos já não têm forças para correr. Alguns tombam com as mãos estendidas. Outros morrem de pé, esgotados. Crianças, pais, médicos, jornalistas. Famílias inteiras que sobrevivem à bomba para morrer de fome.

Nada — absolutamente nada — justifica essa crueldade. Nem o brutal ataque do Hamas em 7 de outubro, que deve ser investigado e responsabilizado conforme o direito internacional, serve mais como justificativa para a barbárie que se seguiu. Quando um Estado decide punir coletivamente uma população de mais de dois milhões de pessoas, mais da metade delas crianças, não está se defendendo: está institucionalizando o massacre.

A essa altura, é legítimo dizer: o que o governo Netanyahu está fazendo em Gaza não é menos atroz do que o que os nazistas fizeram ao povo judeu durante o Holocausto. A lógica é a mesma — desumanizar para eliminar. A dor é a mesma — a do corpo exaurido, da mãe que chora um filho sem leite, do pai que não tem como proteger os seus. A diferença é que agora tudo está ao alcance de um clique. Ainda assim, o mundo hesita.

Se ainda restam dúvidas, compare as imagens: esqueletos com olhos, peles grudadas a ossos, corpos amontoados. Os campos de concentração do século XXI estão diante de nós, e não é necessário muro nem arame farpado para que se veja o genocídio. Basta a fome, administrada com cálculo militar.

Não há justificativa moral, ética, política ou religiosa para tamanha brutalidade. Quem defende ou relativiza esse tipo de ação perdeu qualquer contato com a dignidade humana. Não se trata de escolher um lado no conflito. Trata-se de escolher a vida.

É preciso dizer, com todas as letras: o que se vê em Gaza é crime contra a humanidade. E a omissão — ou o silêncio cúmplice — de líderes mundiais, de governos democráticos, de organismos internacionais, será lembrada como uma das maiores vergonhas da nossa era.

https://www.reuters.com/business/healthcare-pharmaceuticals/gaza-facing-man-made-mass-starvation-says-whos-tedros-2025-07-23/

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

24 de jul. de 2025

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