Quando até a presidente é tocada sem consentimento.
O assédio sofrido por Claudia Sheinbaum em plena rua, diante das câmeras, mostra que nenhuma mulher está a salvo — nem mesmo a chefe de Estado.
@Claudiashein/Fotos Públicas
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Todas nós conhecemos o desconforto de existir em alerta.
A falta de respeito ao nosso espaço e à simples distância que garante dignidade é cotidiana, transversal, e independe de quem somos, do que vestimos ou da hora do dia.
Recentemente, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, caminhava por uma rua da Cidade do México quando um homem alcoolizado se aproximou, tentou beijá-la e a tocou sem consentimento.
O episódio foi filmado, e o mundo assistiu, incrédulo, ao que tantas de nós conhecemos de perto.
Sheinbaum reagiu e moveu ação judicial contra o agressor, transformando invasão em exemplo político.
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“Se isso acontece com a presidente, o que acontece com todas as mulheres deste país?”
— Claudia Sheinbaum, 2025
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Em mim, a pergunta despertou uma lembrança antiga: um grupo de meninos passou a mão em mim numa rua de Belo Horizonte.
Eu não tive o que fazer.
As reações foram risadas, tentativas de consolo — como se aceitar a violência fosse a forma mais prática de sobreviver.
E é exatamente esse tipo de silêncio complacente que perpetua a cultura da invasão.
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🔴 Não é só com a presidente que isso acontece
Nas últimas semanas, câmeras de segurança em São Paulo flagraram um homem se masturbando enquanto assediava mulheres em plena luz do dia.
Outro vídeo mostrou um passageiro expondo-se dentro de um trem da CPTM.
Em Cuiabá, um idoso foi filmado tocando mulheres dentro de um ônibus.
Em Fortaleza, um homem agarrou uma mulher dentro de um elevador.
📸 Imagens: CNN Brasil / Folha do Estado / Defensoria CE / O Globo
Essas cenas derrubam a velha narrativa machista de que “isso só acontece com quem não se dá ao respeito”.
Não é a roupa, nem o comportamento, nem a hora.
É o machismo estrutural que autoriza a invasão do corpo feminino — seja na rua, no transporte público, no elevador ou no Palácio Nacional.
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📊 Os números por trás do silêncio
🩶 1 em cada 3 mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual — 736 milhões de pessoas.
🩶 No México, 70,1 % das mulheres já sofreram algum tipo de violência; 45,6 % foram assediadas em espaços públicos, e 78,3 % nunca denunciaram.
🩶 No Brasil, 76 % das brasileiras já sofreram assédio sexual em locais públicos, e 45 % dizem ter medo de andar sozinhas à noite.
📊 Fontes: OMS (2024) | INEGI México (2021) | Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023)
Esses dados desmontam a ideia de que o assédio é exceção.
É estrutura — e é universal.
A diferença está em quem cala e quem reage.
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🟩 Conclusão
O corpo da mulher não é um convite.
Cada vez que uma mulher denuncia, algo se desloca — no mundo e em nós.
O gesto da presidente mexicana nos lembra que o respeito não depende do cargo, da roupa ou da hora:
o respeito é um direito humano inegociável.
E o consentimento, em qualquer esfera, é o nome civilizado da justiça.
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Inglês:
When Even the President Is Touched Without Consent.
The harassment suffered by Mexico’s President Claudia Sheinbaum, caught on camera, shows that no woman — not even a head of state — is truly safe.
Every woman knows the unease of being on alert.
The lack of respect for our space — for our right to exist freely — transcends clothing, age, and time of day.
Recently, Mexico’s President Claudia Sheinbaum was walking through Mexico City when a drunken man approached, tried to kiss her neck, and touched her without consent.
She pressed charges, turning humiliation into political courage.
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“If this happens to the president, what happens to all the women in this country?”
— Claudia Sheinbaum (2025)
Like millions of women, I remember being touched without consent and told to laugh it off — as if silence could heal.
That’s how normalization works: turning violence into banality.
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🔴 It doesn’t only happen to the president
In São Paulo, cameras recorded a man exposing himself while harassing women.
Another was caught masturbating on a commuter train.
In Cuiabá, a man groped women on a bus; in Fortaleza, an elevator camera filmed a similar act.
These cases — like Sheinbaum’s — destroy the sexist belief that harassment only happens to women who “don’t behave.”
It’s not about behavior. It’s about domination.
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📊 The Numbers Behind the Silence
• 1 in 3 women worldwide experience physical or sexual violence (WHO).
• In Mexico, 70.1 % of women have faced violence; 45.6 % report harassment in public, 78.3 % never report it (INEGI 2021).
• In Brazil, 76 % of women say they’ve been harassed in public; 45 % fear walking alone at night (Brazilian Forum for Public Safety 2023).
It’s not an exception — it’s a system.
But each act of resistance chips away at centuries of impunity.
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🟩 Conclusion
A woman’s body is not an invitation.
Each complaint is a political act, a refusal to accept violence as fate.
When even a president refuses silence, she speaks for us all.
Respect is not granted by status — it’s a universal right.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.
7 de nov. de 2025

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