Risos, Sanções e Rachadinhas:
A cafonice dourada de Trump e o vexame da família Bolsonaro
Vistos negados porquinhos rachados no ataque a soberia brasileira.
Então Alexandre de Moraes não vai mais poder visitar os EUA. Barroso, Cármen Lúcia, Toffoli, Zanin, Dino, Fachin e Gilmar Mendes também terão seus vistos estadunidenses cancelados, conforme nota de Marco Rubio — o Capitão do Mato de Estado do presidente Trump.
Eu me sinto em boa companhia: também não consegui meu visto. Tenho a impressão de que consultaram minhas redes sociais, onde consta que sou ativista. E não seria a primeira vez — amigos europeus já me contaram sobre conhecidos progressistas deportados ao chegarem em solo americano, depois de terem seus celulares revistados.
Moraes diz que tudo bem — e eu me identifico.
Os EUA que me cativaram foram os dos movimentos civis, do republicano anti-escravismo Abraham Lincoln, da rebeldia contra a guerra do Vietnã, da voz consciente de Martin Luther King, do festival de Woodstock, do ET de Steven Spielberg, do jornalismo de Barbara Walters, Bob Woodward e Carl Bernstein. Um lugar de liberdade que plantava sonhos em mentes e corações ao redor do mundo.
Já os Estados Unidos de Trump são a própria cafonice: aquele país do qual se diz que, nem pintado de ouro, se queira estar. E sabemos bem como o presidente é deslumbrado por essa estética dourada — ou alaranjada, pelo menos. Ostentação que está mais para kitsch do que para o que se possa chamar de chic.
MAGA Cafona
A idealização da América (do Norte — porque é sempre bom lembrar que o continente é bem maior que os Estados Unidos da América) no conceito de Trump enaltece a exploração e o subjugo, encarnados num estereótipo de oligarca russo. E eu me pergunto: Donald Trump estaria comparando nossos juízes a esses oligarcas, ao ameaçar congelar as contas bancárias dos ministros do STF nos EUA?
Um riso escapa da minha boca, acompanhado de um sonoro “rá” que me pega de surpresa.
Tudo bem, muito se discute os privilégios dos altos magistrados — e há críticas legítimas a esse respeito. Mas comparar ministros do Supremo a bilionários mafiosos? Aí já é exagero.
E por falar em ouro, Eduardo Bolsonaro, dizem, acelera seu pedido de cidadania americana — pela qual Trump, veja só, cobraria 5 milhões de dólares¹. O pai, que já enviou 2 milhões para que o “garoto” “não passasse aperto” com a família nos EUA, justificou: ele não volta porque seria preso.
O chefe do clã Bolsonaro se diz humilhado com as medidas da Justiça e do governo dos Estados Unidos, mas não percebe que a humilhação é — mais uma vez — um vexame autoimposto. É bom lembrar: Ninguém nunca o obrigou a bater continência para a bandeira americana.
Resta saber se o valor do “Trump Gold Card”para o moleque Eduardo seria pago em cash, via Pix de doações choradas nas redes, ou se basta quebrar o porquinho — aquele abastecido por rachadinhas.
⸻
¹ Nota: Em 2025, Donald Trump anunciou a ideia de um “Trump Gold Card” — uma proposta ainda não aprovada pelo Congresso americano que ofereceria residência permanente nos EUA a estrangeiros dispostos a pagar 5 milhões de dólares. A iniciativa foi apresentada como um tipo de “visto VIP”, mas até agora não passou de marketing político: nenhum dispositivo legal foi implementado, e juristas alertam que a medida seria inconstitucional sem aprovação legislativa. Mesmo assim, milhares de interessados se cadastraram no site oficial. Se virar realidade, o golden card será o green card mais caro (e cafona) da história.
_____
Ingles:
Laughter, Sanctions, and Slush Funds: Trump’s Gaudy Diplomacy Meets the Bolsonaro Family Circus
Revoked visas, broken piggy banks, and sovereignty under siege
By Valéria Monteiro
⸻
Alexandre de Moraes is no longer welcome in the United States. And he’s not alone. Barroso, Cármen Lúcia, Toffoli, Zanin, Dino, Fachin, and Gilmar Mendes — all Brazilian Supreme Court justices — have reportedly had their visas revoked.
The announcement came in a statement by Marco Rubio, Trump’s freshly appointed Secretary of State, now cast in a role disturbingly reminiscent of Brazil’s Capitão do Mato — a colonial figure historically tasked with chasing down those who dared to escape domination.
Rubio, a Cuban-American, now stands at the gates of empire, wielding sanctions against democratic institutions abroad while wearing the face of the “other.” A modern-day overseer. A Latin credential used to validate a reactionary crusade.
I suppose I’m in good company. My own U.S. visa was denied. I suspect someone checked my social media and didn’t like what they saw — namely, an activist. Wouldn’t be the first time. European friends have shared stories of progressives turned away at American airports, their phones rifled through, their presence deemed undesirable.
Moraes, for his part, shrugged it off: “That’s fine.” And honestly? I relate.
The United States I once admired was the land of civil rights, of Abraham Lincoln, of resistance to unjust wars, of Martin Luther King’s dream, of Woodstock, E.T., and the journalism of Barbara Walters, Bob Woodward, and Carl Bernstein. A country that once exported freedom — or at least the idea of it — through storytelling, sound, and fearless reporting.
Trump’s America? That’s something else entirely. It’s the kind of place people say you wouldn’t want to be — not even if dipped in gold. A spectacle of gold-plated fixtures, orange tans, inflated egos, and foreign policy driven by grievance and oligarchic aesthetics.
Make America Gaudy Again.
Trump’s vision of America isn’t built on democracy or dignity — it’s built on spectacle and submission. His threat to freeze the assets of Brazilian justices echoes the same vulgar bravado with which he praises strongmen and undermines institutions.
Is he comparing Brazil’s Supreme Court to Russian oligarchs? The thought makes me laugh — out loud, in fact, with a sharp “ha!” I didn’t see coming.
Yes, the privileges of high-ranking judges are fair game for debate. But let’s not kid ourselves — comparing them to mafia-style billionaires is a stretch.
And speaking of gold: Eduardo Bolsonaro, son of the former president, is reportedly fast-tracking his U.S. citizenship application. The price? A modest $5 million — the going rate for Trump’s so-called “Gold Card”¹.
His father, it turns out, has already sent him R$2 million (around $400,000). “So the boy wouldn’t struggle,” he explained. In America, of course.
Now he claims to feel humiliated — by the Brazilian Supreme Court’s order for an ankle monitor. But he fails to see what the rest of us can: this humiliation, like so many before it, is self-inflicted. No one ever forced him to salute the American flag.
So the real question is whether Eduardo plans to pay in cash, via Pix, or by breaking open the family piggy bank — the one stuffed over the years by Brazil’s most infamous slush-fund scheme: the rachadinha.
⸻
¹ In 2025, Donald Trump floated the idea of a “Trump Gold Card” — a proposed visa for foreign nationals willing to pay $5 million for permanent U.S. residency. While legally dubious and not yet approved by Congress, the announcement drew tens of thousands of eager signups. Immigration attorneys, constitutional scholars, and critics across the spectrum have called it what it is: a political gimmick wrapped in gold leaf. If enacted, it would become the most expensive — and certainly the tackiest — green card in American history.
Capitão do Mato: A historical figure in Brazil, often of African or mixed descent, tasked with recapturing escaped enslaved people. Today, the term symbolizes collaboration with oppressive systems in exchange for status or power — a betrayal made visible.
Rachadinha: A Brazilian term referring to a form of political corruption in which publicly funded staffers are forced to kick back part of their salaries to the politician who hired them. Though often treated as petty or “routine,” it constitutes embezzlement of public funds and was at the heart of multiple scandals involving the Bolsonaro family.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.
19 de jul. de 2025

Leia Também
De quem é Nova York.
Entre despejos e arranha-céus, a eleição de Zohran Mamdani redefine a ideia de cidade — e desafia o capital global.

