Todo Dia das Mães,
costumo escrever sobre como ser mãe me transformou.
Todo Dia das Mães, costumo escrever sobre como ser mãe me transformou. Falo da alegria, dos aprendizados, da força que descobri em mim por causa da minha filha. Mas, este ano, quero prestar homenagem à mulher que me gerou. À minha mãe.
Nem sempre foi fácil para ela. E não por motivos fúteis. Minha mãe viveu uma experiência solitária ao lado de um homem violento e narcisista. Foi vítima sobretudo quando ousava apontar o que doía, quando cobrava posicionamento. Perdeu-se tentando encontrar uma forma de sobreviver em paz.
Mas antes disso — e também durante — ela era a jovem linda, divertida, artística, rodeada de admiradores de todos os gêneros, cores, classes. Não fez faculdade, parou a um ano de concluir o curso de magistério, e mesmo assim, tantas vezes, era a pessoa mais culta da sala. Generosa, amiga, foi uma mãe extremamente amorosa. Na infância, lembro da doçura dela tentando equilibrar a exigência de um marido que não soube ser pai, que competia com as filhas por sua atenção.
Minha mãe sempre teve ideias avançadas e atitudes reprimidas. Até que um dia, se afastou — se recolheu num esconderijo da mente, onde acreditava que poderia evitar o confronto. Ainda assim, depois, se reergueu. Se reinventou. E deu tudo de si para realizar nossos sonhos — férias, festas, alegrias.
O medo permaneceu. Ainda hoje, mesmo depois de tudo, ela treme — não por Parkinson, mas pelo tremor essencial que a violência deixa.
Todos erramos. Todos acertamos. Mas foi com ela que aprendi o que é amar além da incompreensão, além dos desafios. Foi com a minha mãe que aprendi que o amor verdadeiro transcende.
Tudo o mais é nuance.
Obrigada pelo seu esforço, obrigada por ser minha mãe em carne, osso e stent. Pela alegria sobrevivente. Por me ensinar a dançar, a cozinhar, a valorizar estilo mais do que moda. Pelo gosto pela leitura nas estórias que lia para mim. Pelo respeito à arte, à mitologia, à história. Pela espiritualidade. Pelo carisma que ainda hoje encanta a todos.
Você um dia me disse que são os filhos que escolhem os pais antes de nascer. Com todas as dificuldades que isso possa ter representado, sinto que nossa ligação tem um propósito maior.
Mãe, eu te amo.
Valéria Monteiro

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.
11 de mai. de 2025

Leia Também
De quem é Nova York.
Entre despejos e arranha-céus, a eleição de Zohran Mamdani redefine a ideia de cidade — e desafia o capital global.

