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Balada de um Jogador.

Balada de um Jogador.

O jogo, o vício e o espelho da alma.

O que carregamos do mundo que vemos nas telas?
Balada de um Jogador, novo filme de Edward Berger, não é apenas sobre apostas — é sobre o fascínio do risco, o luxo da decadência e o autoengano que disfarça o vazio.
Nesta história ambientada em Macau, o jogo é metáfora da vida: cada aposta revela o medo de perder o controle, e cada vitória, uma ilusão de domínio sobre o acaso.

Há filmes que não se assistem — se absorvem.
Balada de um Jogador é um desses retratos em que o vício deixa de ser comportamento e se torna estado de alma. O filme se move como uma febre elegante: lento, denso, hipnótico.

Colin Farrell entrega uma de suas atuações mais contidas e brilhantes — um homem que vive de apostas, mas o que realmente arrisca é a própria identidade. É uma performance magnética, silenciosa, digna de prêmio.

Tilda Swinton, quase irreconhecível, surge de forma desconcertante — desmontando o olhar de quem a via como atriz de estereótipos. É presença que desestabiliza, e justamente por isso permanece.

A fotografia de James Friend é pura vertigem: luzes de néon que ardem e se dissolvem, corredores que não levam a lugar algum, reflexos que multiplicam a solidão. O cenário é um espelho partido da mente de quem aposta tudo.

Berger não moraliza. Balada de um Jogador é menos sobre o jogo de azar e mais sobre a ilusão do controle — a tentativa humana de negociar com o destino. É cinema em estado psicológico: uma meditação sobre o prazer da queda e a melancolia da sorte.



🎯 Quando o jogo atravessa fronteiras

Em 23 de outubro de 2025, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a prisão de 31 pessoas envolvidas em um sofisticado esquema de pôquer e apostas ilegais entre Los Angeles e Las Vegas.
Entre os acusados estavam ex-jogadores e técnicos com passagem pela NBA, incluindo Gilbert Arenas, nome de destaque do basquete americano dos anos 2000.

As investigações revelaram cassinos clandestinos, jogos de cartas manipulados com tecnologia de raio-X e ligação com o crime organizado. Nenhum atleta em atividade foi preso — mas o caso expôs um submundo que usa o brilho do entretenimento para mascarar a lógica do vício e da ganância.

O episódio ecoa o tema central do filme: o jogo como espelho da alma.

“Se até quem já teve tudo volta a apostar, o que é que realmente se perde quando se joga?”

No Brasil, a discussão sobre cassinos e apostas virtuais avança com entusiasmo político e pouca reflexão social. O argumento é econômico — geração de empregos, turismo, arrecadação.
Mas, à maneira socrática, talvez devêssemos perguntar:

“O que é ganhar?”

Ganhar dinheiro? Ou ganhar o direito de perder-se um pouco mais?

A roleta digital gira no bolso, silenciosa e constante. O jogo já não acontece nas mesas — acontece na palma da mão.



🎥 Ficha técnica

Título original: Ballad of a Small Player
Título no Brasil: Balada de um Jogador
Direção: Edward Berger
Roteiro: Rowan Joffé, baseado no romance de Lawrence Osborne
Elenco: Colin Farrell, Tilda Swinton, Fala Chen, Deanie Ip, Alex Jennings
Fotografia: James Friend
Trilha sonora: Volker Bertelmann
Duração: 1h42 min
Origem: Reino Unido
Lançamento: 2025 | Disponível na Netflix



Inglês:

🌐 Ballad of a Small Player — gambling, addiction, and the mirror of the soul



🌿 Introduction

What do we carry from the worlds we see on screen?
Edward Berger’s Ballad of a Small Player isn’t merely about gambling — it’s about the allure of risk, the luxury of collapse, and the subtle art of self-deception.
Set in Macau, the story turns the act of betting into metaphor: each wager reveals a deeper fear of losing control, each win, an illusion of mastery over chance.



🎬 Review

Some films aren’t watched — they’re absorbed.
Ballad of a Small Player is one of those rare portraits where addiction ceases to be behavior and becomes a condition of the soul. It unfolds like an elegant fever — slow, dense, hypnotic.

Colin Farrell delivers a restrained, magnetic performance — a man who gambles for a living but risks far more than money: his very sense of self. It’s among his most quietly brilliant works, worthy of award attention.

Tilda Swinton, nearly unrecognizable, appears in a way that unsettles — dismantling the audience’s preconceived notions of her range. A smaller role, yet indelible.

James Friend’s cinematography is dazzling: neon lights burn and dissolve, corridors lead nowhere, and reflections multiply loneliness. The scenery is a fractured mirror of a gambler’s mind.

Berger refuses moralism. Ballad of a Small Player is less about gambling and more about the illusion of control — humanity’s futile attempt to bargain with fate. It’s psychological cinema, meditative and melancholic, about the beauty of downfall and the ache of luck.



🎯 When the game crosses borders

On October 23, 2025, the U.S. Department of Justice announced the arrest of 31 people linked to a sophisticated illegal poker and betting ring operating between Los Angeles and Las Vegas.
Among them were former NBA players and coaches, including Gilbert Arenas, a celebrated basketball name from the 2000s.

Investigators uncovered clandestine casinos, X-ray–equipped card tables, and ties to organized crime. No active players were arrested, but the case exposed a world where glamour conceals greed — and the addiction to risk becomes a form of power.

The episode mirrors the film’s essence: gambling as a mirror of the soul.

“If even those who’ve had it all keep betting, what do we truly lose when we gamble?”

In Brazil, debates on casino legalization and online betting surge with optimism and haste. Politicians promise jobs, revenue, and tourism growth.
But, in Socratic terms, the question remains:

“What does it mean to win?”

To win money? Or to lose a bit more of ourselves?

The roulette wheel now spins in our hands — quiet, seductive, constant.
The game has already begun.



🎥 Credits

Original title: Ballad of a Small Player
Brazilian title: Balada de um Jogador
Director: Edward Berger
Screenplay: Rowan Joffé, based on the novel by Lawrence Osborne
Cast: Colin Farrell, Tilda Swinton, Fala Chen, Deanie Ip, Alex Jennings
Cinematography: James Friend
Score: Volker Bertelmann
Runtime: 1h42
Country: United Kingdom
Release: 2025 | Streaming on Netflix

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.
5 de nov. de 2025

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