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Perdas e Danos.

Marcus Eduardo de Oliveira

1 de out. de 2025

Disasters are resulting in unprecedented levels of destruction across the world.
These shocks and disruptions affect the functioning and sustainability of agricultural production and threaten the livelihoods of millions of people reliant on agrifood systems. Reducing the impact of disasters on agriculture requires a better understanding of their negative impacts on agriculture and necessitates an investigation into the underlying risks that make agriculture vulnerable to the effects of disasters.
(FAO, 2023)

RECURSOS DA NATUREZA COMO ÁGUA, florestas, solo, madeira, alimentos, a qualidade do ar e a biodiversidade são, via de regra, entendidos como capital natural (vantagens ambientais competitivas) e formam, sendo ainda mais claro, a base da economia. É no capital natural (a capacidade ecológica do planeta) que a economia se apoia, se capacita, se desenvolve e funciona. Esse é o capital essencial para o desempenho das atividades humanas. Esse capital, em meio aos desafios emergentes das mudanças climáticas, precisa ser preservado e conservado, em alguns casos reposto e, sempre, bem tratado, como fazem “os povos indígenas que gerem 39% das terras globais ecologicamente saudáveis”1; tudo para que a própria economia (atividade) alcance mais qualidade.
Mais precisamente, capital natural “funciona” como o fluxo de matéria e energia (ativos) que põe em funcionamento o que se chama de economia linear (extrai, produz, consome, descarta) “sustentando” todas as outras atividades. Em verdade, falamos da capacidade produtiva da economia, desde o solo fértil que nos dá o alimento às florestas que sequestram carbono e levam a chuva à agricultura moderna. Falamos da diversidade genética do qual todos dependemos, por conta dos medicamentos. E da utilização de sistemas naturais que qualificam (isto é, o bem-estar geral pensado para as espécies humanas e não humanas) o projeto civilizatório e suportam a civilização atual. Mas, sobretudo, e convém lembrar, a degradação de capital natural afeta (e muito) os processos (e as cadeias) produtivos.
Não surpreende, portanto, que, diante da escala de devastação ecossistêmica, cria-se uma série de dificuldades para levar adiante a sustentabilidade planetária, bem como basear nosso desenvolvimento (mais qualidade e não mais quantidade, a essência do crescimento) no uso sustentável dos recursos naturais.
Aliás, faz tempo que nossos modelos de desenvolvimento a qualquer custo ignoram os danos ambientais, especialmente a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas. Nesta direção, ainda existe no mundo mais de 7 bilhões de dólares em subsídios para os combustíveis fósseis, a agricultura e a pesca – 8% do PIB global.
Fora isso, perdas e danos, como é fácil presumir, não cessam de surgir. E tudo resultado num colapso ambiental e social, obstaculizando a busca de um ciclo de equilíbrio entre nós, os modernos, e a natureza, a economia, a sociedade.
Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)2 sobre impactos na agricultura e segurança alimentar, nos últimos 30 anos, a agricultura e a pecuária globais perderam cerca de US$ 3,8 trilhões devido a catástrofes, a maioria delas ligada a eventos climáticos.
De acordo com o relatório do National Bureau of Economic Research (NBER), cada aumento de 1°C na temperatura global pode estar associado a um declínio de 12% no PIB global.
Segundo o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), há mais de 50% de chance de a temperatura global ultrapassar 1,5°C até 2040, com muitos cientistas projetando um aumento de até 3°C até o fim do século.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já apontou que temperaturas acima de 24 a 26°C reduzem a produtividade, e a 33 ou 34°C, pode haver uma perda de até 50% da capacidade de trabalho em atividades moderadas.
Pesquisa recente3 levantada pela Universidade de Oxford apontou que choques na economia global relacionados à perda de biodiversidade e danos ao ecossistema podem custar mais de 5 trilhões de dólares.
Pelo referido estudo, sabemos que “a poluição causada pelo homem, o desmatamento, as mudanças no uso da terra e a extração excessiva estão fundamentalmente erodindo o capital natural sobre o qual nossas sociedades e economias são construídas — incluindo nossa água, ar limpo, solos férteis e polinizadores — e agem como "amplificadores de risco" nos impactos das mudanças climáticas”.

(*) MARCUS EDUARDO DE OLIVEIRA, economista e ativista ambiental.
Autor de A Civilização em Risco (ed. Jaguatirica, 2024), entre outros.

Notas:
Encontrado em: https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/artigos-e-estudos/economia-guardioes-natureza/
The Impact of Disasters on Agriculture and Food Security – Avoiding and Reducing Losses Through Investment in Relisience. Disponível em: https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/19764bec-3b8e-46a6-8680-1dbab43bccaa/content/cc7900en.html
The Green Scorpion: the MacroCriticality of Nature for Finance Foundations for scenario-based analysis of complex and cascading physical nature-related financial risks - Published as Oxford-NGFS Occasional Paper - December 2023.

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