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A política da vida melhor:

Do discurso dos direitos à promessa de prosperidade vivida.

A política da vida melhor:

Durante décadas, a política brasileira organizou sua narrativa em torno da linguagem dos direitos. Direito à renda, à moradia, à saúde, à dignidade. Essa gramática foi decisiva para enfrentar desigualdades históricas e estruturar pactos mínimos de convivência democrática após longos períodos de exclusão social.

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No entanto, essa linguagem começa a mostrar sinais de esgotamento como eixo central da comunicação política. Não porque os direitos tenham perdido relevância — mas porque o imaginário social mudou.

O eleitor brasileiro de hoje quer mais do que garantias normativas.
Ele quer vida melhor.

Os pronunciamentos recentes do presidente Lula indicam que essa inflexão foi percebida no Planalto. Ao insistir que o dinheiro precisa circular, que a economia deve alcançar a vida concreta das pessoas e que crescimento não pode ser aferido apenas por gráficos ou indicadores macroeconômicos, o presidente ajusta sua retórica a um país mais aspiracional do que reivindicatório.

Trata-se de um Brasil que deseja prosperar, empreender, ascender socialmente e, sobretudo, sentir no cotidiano que está avançando.

Esse deslocamento discursivo não implica abandono da agenda social. Implica sua reconfiguração.
Direitos expressam aquilo que é devido pelo Estado. Vida melhor expressa aquilo que pode ser construído pelo cidadão, a partir de condições reais de oportunidade.

Do ponto de vista político, a mudança é menos ideológica e mais estratégica. Ela dialoga menos com o militante tradicional — já convencido — e mais com o eleitor comum, que não se reconhece como dependente do Estado, mas como agente ativo da própria trajetória. Um eleitor transversal, que atravessa classes sociais, identidades culturais e denominações religiosas, e que responde melhor à promessa de oportunidade concreta do que à retórica permanente da reparação.

Ignorar essa transformação é perder conexão com o tempo político presente. Compreendê-la é ganhar fôlego, ampliar base e disputar o futuro.

O desafio central da política nacional não é escolher entre direitos ou crescimento, entre proteção social ou prosperidade. É fazer com que os direitos produzam horizonte, mobilidade e expectativa de avanço.

Porque, no Brasil de hoje, futuro deixou de ser uma abstração.
Futuro é prosperidade vivida.


Inglês:
The Politics of a Better Life

From the language of rights to the promise of lived prosperity

For decades, Brazilian politics structured its narrative around the language of rights. The right to income, housing, healthcare, dignity. This framework was essential to confronting historical inequalities and building minimum democratic consensus in a society long marked by exclusion.

However, this language is beginning to show signs of exhaustion as the central axis of political communication — not because rights have lost relevance, but because the social imagination has shifted.

Today’s Brazilian voter wants more than normative guarantees.
They want a better life.

Recent statements by President Lula suggest this shift has been acknowledged at the highest level of government. By emphasizing that money must circulate, that the economy must reach people’s everyday lives, and that growth cannot be measured solely by charts or macroeconomic indicators, the president recalibrates his rhetoric to a country that is increasingly aspirational rather than purely claim-driven.

This is a Brazil that seeks prosperity, entrepreneurship, upward mobility and, above all, tangible progress in daily life.

This discursive shift does not signal abandonment of the social agenda. It signals its reconfiguration.
Rights define what the State owes. A better life defines what citizens can build when real opportunities exist.

Politically, the move is less ideological than strategic. It speaks less to the traditional activist base and more to the ordinary voter — one who does not see themselves as a permanent beneficiary of the State, but as an active agent of their own trajectory. A cross-cutting electorate that spans social classes, cultural identities and religious affiliations, and that responds more to the promise of opportunity than to the constant rhetoric of redress.

Ignoring this transformation risks political irrelevance. Understanding it offers renewed momentum and broader electoral reach.

The central challenge of national politics today is not choosing between rights and growth, or social protection and prosperity. It is ensuring that rights generate horizon, mobility and credible expectations of progress.

Because in today’s Brazil, the future is no longer an abstraction.
The future is lived prosperity.

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

19/12/25
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