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Quando a Defesa Vira Ataque:

O caso Marina Silva e o uso estratégico do constrangimento contra mulheres em espaços de poder.

Quando a Defesa Vira Ataque:

✍️ Desde a visita da ministra Marina Silva ao Senado, venho escutando atentamente os argumentos a favor e contra sua postura na Comissão de Infraestrutura. Decidi, então, voltar à gravação da audiência e assistir tudo — do comecinho. E foi ali, sem cortes, que percebi o quanto o contexto muda tudo.

Se os trechos que chegaram aos noticiários deixam dúvidas ou alimentam julgamentos apressados, convido você a assistir desde o início. Porque o que vi foi uma ministra que, apesar da voz estridente — e isso não é um defeito, é um traço — manteve absoluto controle sobre os dados, sobre os temas, sobre o seu lugar. Respondeu a todas as perguntas, respeitou as regras — mesmo quando elas eram mudadas no meio do jogo, sem explicação.

Marina foi interrompida, provocada, constrangida. Reagiu com firmeza. Mas não perdeu o fio, nem a compostura. Quem assistiu inteiro sabe: os ataques que recebeu vinham sem base, sem profundidade, e, ao que tudo indica, com motivações que extrapolam o debate técnico. Havia, ali, um jogo de forças. Um embate entre um projeto de país sustentável — representado por ela — e os interesses atrasados de um modelo que trata o meio ambiente como obstáculo ao lucro fácil.



Um espelho: a mulher que não pode errar

Houve uma conversa de família em que, para evitar um confronto agressivo, escolhi não insistir. Engoli a resposta, cedi espaço, deixei passar. Meses depois, minha opinião foi distorcida, meu sentimento recontado por outra boca — e quando tentei, com firmeza, retomar o que era meu, fui acusada de interromper, de ser dura, de não saber conversar. A crítica veio, ironicamente, de outra mulher.

Essa lembrança voltou com força ao assistir ao episódio de Marina Silva. Como eu e tantas outras mulheres, ela foi julgada não apenas pelo que disse, mas pela forma como ousou se defender, de modo descontextualizado.



A estratégia do constrangimento

Disseram que Marina gritou, apontou o dedo, interrompeu. Mas quem acompanhou do início sabe: ela foi repetidamente interrompida, teve sua fala desconsiderada, foi desafiada com provocações e ironias. E quando reagiu — com firmeza, mas sem perder o controle — o foco deixou de ser o conteúdo que ela levava para se transformar em julgamento de comportamento.

E esse julgamento já vinha de antes. O senador Zequinha Marinho, por exemplo, já a acusara de integrar uma “seita ecológica”. O senador Magno Malta fez ataques similares, em sua ausência, chamando suas ações de “cruzada ideológica”.

Não se trata de crítica técnica. Trata-se de um uso estratégico do constrangimento como ferramenta política — para deslegitimar uma mulher, uma ambientalista, uma liderança negra, e os ideais que ela representa.



Quando o problema é reagir

Essa lógica é antiga: quando uma mulher se cala, é tida como fraca ou omissa. Quando se impõe, é considerada descontrolada. E o mais cruel: esse julgamento muitas vezes vem de outras mulheres. Não por crueldade — por repetição. Fomos ensinadas a temer a mulher que fala alto, que não recua, que não sorri. A desconfiar da que aponta o dedo.

Marina Silva é mulher, negra, amazônida. Sua existência pública já desafia o sistema. Sua voz incomoda — não por ser alta, mas por ser lúcida. E por isso, tantos tentam transformar sua reação em descompostura, sua defesa em ataque.



O que (ainda) precisamos perguntar

Talvez esteja na hora de mudar a pergunta. Em vez de nos perguntarmos “por que ela gritou?”, devíamos perguntar: por que ninguém a escutou antes?

Porque, às vezes, a mulher que levanta a voz não o faz por impulso. Faz porque já tentou o silêncio — e o silêncio também a fez perder.



✊🏽 ATUE AGORA: Assine o pedido de responsabilização dos senadores que atacaram Marina Silva

O que aconteceu naquela comissão não pode se repetir impunemente. O Senado tem um código de ética. E ele foi violado — à vista de todos.
📢 Por isso, apoiamos o pedido formal à Comissão de Ética do Senado para que analise e julgue as condutas dos parlamentares que ofenderam a ministra Marina Silva.

👉🏾 Assine o abaixo-assinado aqui:
https://chng.it/QDTVR9wKdJ

🙌🏽 Juntas e juntos, podemos transformar indignação em ação.



🎥 Assista à íntegra da audiência na Comissão de Infraestrutura com Marina Silva

👉 Vídeo completo no canal do Senado Federal (YouTube)



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📎 Fonte oficial do vídeo: TV Senado

Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

06/06/25
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