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Um Negócio da China?

Oportunidades e Ironias na Logística Brasileira

Um Negócio da China?

A guerra tarifária iniciada pelo governo Trump contra a China, em 2018, abriu para o Brasil uma janela de oportunidade rara: expandir significativamente sua participação no mercado chinês, especialmente no setor de commodities agrícolas como a soja. Mas junto com essa chance emergiu, de forma ainda mais evidente, uma velha fragilidade nacional: a dependência quase exclusiva do transporte rodoviário.

Essa configuração logística não surgiu por acaso. Ela é fruto de escolhas feitas durante o processo de industrialização do país, em especial a partir dos anos 1950, quando o governo brasileiro, inspirado pelo modelo americano de desenvolvimento, priorizou a construção de rodovias para integrar o território e estimular a nascente indústria automobilística instalada aqui com forte apoio internacional. Em vez de investir pesadamente em ferrovias — como seria natural para um país de dimensões continentais —, o Brasil optou pelo modal rodoviário, decisão que hoje limita nossa eficiência logística e aumenta nossos custos de exportação.

Talvez agora seja o momento de corrigir esse desequilíbrio. Um verdadeiro “negócio da China” seria ir além da simples ampliação das vendas de soja: propor uma parceria estratégica com os chineses para o desenvolvimento de uma nova malha ferroviária no Brasil. Integrar infraestrutura logística às negociações comerciais abriria um caminho para solucionar uma deficiência histórica, além de gerar empregos, reduzir custos e mitigar impactos ambientais.

Naturalmente, é necessário cautela. O exemplo de países africanos, onde investimentos chineses em infraestrutura acabaram por gerar dependência e perda de soberania, serve de alerta. O Brasil, com sua dimensão econômica e institucional, tem condições de negociar de forma equilibrada, garantindo que eventuais parcerias tragam ganhos mútuos sem comprometer o controle nacional sobre ativos estratégicos.

As ironias da história não passam despercebidas: se em grande parte a influência americana nos levou a apostar nas rodovias, talvez seja justamente a China, décadas depois, a ajudar o Brasil a reencontrar o caminho das ferrovias.

Valéria Monteiro Jornalista.

17/04/25
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