Natureza, Resiliência e Liderança Ambiental.

Natureza:Valéria Monteiro Jornalista.

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Gosto de regar o jardim. Observar a natureza em seu estado puro e caótico ao mesmo tempo. É vulnerável e resiliente, conseguindo brotar entre pedras e calçamentos onde, aparentemente, não haveria espaço para a vida. Este pequeno jardim se tornou um refúgio, um “jardim secreto” que foi essencial durante os tempos difíceis da pandemia. Um espaço que resistiu à altura dos prédios que aumentam ao redor, cada vez mais altos, como se quisessem espiar essa minha pequena fortaleza verde.

As plantas que cultivo representam não apenas beleza, mas também a resistência de um organismo que, apesar das adversidades, segue crescendo. Entre elas, uma floresta de manjericão toma forma – aromática, generosa, delicada. Não é à toa que tantas culturas associam a natureza a uma energia feminina: ela encontra equilíbrio, age com ternura, mas é capaz de impor lições duras, sempre em nome da sobrevivência.

E pensar em tudo isso me faz lembrar de uma das dualidades da nossa relação com a natureza. Somos parte dela, conscientes ou não – homens, mulheres, pretas, todes. Para alguns, até mesmo objetos inanimados têm um lugar no ciclo da vida. Mas, ao mesmo tempo, questiono-me sobre meu próprio impacto nesse sistema. Por exemplo, o que fazer com meu casaco de pele, que descansa no armário? Deveria mantê-lo, consciente das críticas? Pintá-lo e transformá-lo numa peça de arte? Doá-lo? Vendê-lo? A natureza nos apresenta tantas perspectivas quanto ela mesma tem formas.

Como seres humanos, estamos constantemente desafiados a aprender o quanto estamos todos conectados, uma ligação que vai além das espécies e dos materiais. Essa interconexão é um lembrete de como nossas ações impactam o mundo ao nosso redor e, ao mesmo tempo, voltam para nós de diferentes maneiras. Afinal, as ações individuais, por mais que possam aliviar a consciência e criar uma rede de pequenos impactos positivos, ainda não alcançam o peso das decisões políticas que moldam o destino do planeta.

É preciso que entendamos o papel da liderança ambiental de forma verdadeira e comprometida. No Brasil, esse é um sonho que cresce: ser líder no cenário ambiental global. Mas liderança exige exemplo, exige seriedade, e começa aqui, com políticas que enfrentem as incoerências internas e priorizem a honestidade e o respeito pela natureza. O Brasil só será um líder ambiental se puder inspirar os outros países, mostrando que é possível e viável traçar esse caminho com autenticidade.

O planeta continuará – vulnerável e resiliente, como uma pedra arremessada por alguém que perdeu a lucidez e vaga pelo espaço. Mas a pergunta é: estamos prontos para enfrentarmos as consequências de nossas próprias ações e deixarmos um legado de conexão e responsabilidade para as gerações que estão por vir? Porque liderança não é só uma posição; é o exemplo que resiste.

Valéria Monteiro Jornalista.

Natureza, Resiliência e Liderança Ambiental.