María Corina Machado:
Quando o Nobel revela semelhanças indesejadas.

Foto: Instagram María Corina Machado.
O Prêmio Nobel da Paz costuma elevar líderes acima das disputas políticas, oferecendo a eles uma espécie de escudo moral.
No caso de María Corina Machado, porém, o prêmio fez o oposto: expôs fragilidades e contradições.
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Ao apoiar as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela — sanções que agravam a crise econômica e atingem diretamente o povo que ela diz representar — Machado revela um cálculo político difícil de conciliar com a figura de defensora da paz que o Nobel sugere.
Não se trata de comparar moralmente Machado e Nicolás Maduro.
Mas é impossível ignorar que há paralelos no método.
Maduro justificou seu endurecimento político alegando proteger o país de ameaças externas; Machado, agora, aceita que o povo sofra mais sob as sanções para, supostamente, libertar o país mais adiante.
Em ambos os casos, o sofrimento interno vira variável aceitável dentro de uma estratégia de poder.
É justamente essa lógica — “os fins justificam os meios” — que corroeu a legitimidade do chavismo.
Dependência de potências externas: outra semelhança desconfortável
Maduro se apoiou em alianças externas para sobreviver politicamente.
Machado, ao dedicar seu Nobel a Donald Trump e alinhar-se às políticas de pressão dos EUA, se coloca no mesmo terreno movediço: o de líderes latino-americanos que dependem de patrocínios estrangeiros para ganhar ou manter poder.
É um padrão antigo no continente:
governos que se dizem libertadores, mas se enlaçam a interesses externos — à esquerda ou à direita.
Diante disso, uma pergunta incômoda surge:
em que medida o projeto de Machado difere, na prática, do projeto de Maduro, quando ambos justificam sacrifícios internos e buscam sustentação fora do país?
O Nobel deveria ser um ponto de virada.
Mas acabou iluminando essas convergências involuntárias que podem minar o capital moral de Machado.
Machado continua sendo uma figura central e corajosa na oposição venezuelana.
Mas, enquanto mantiver ações que ecoam métodos que ela mesma condena, sua capacidade de conduzir uma verdadeira renovação democrática permanecerá em dúvida — e sob risco.
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https://www.valeriamonteiro.com.br/politica-internacional/maria-corina-machado-e-o-nobel-em-tempos-de-poder-duro-nobel-da-paz
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María Corina Machado: When the Nobel Reveals Unwanted Parallels
The Nobel Peace Prize often grants leaders a moral shield.
In María Corina Machado’s case, the prize did the opposite: it exposed contradictions and vulnerabilities.
By openly supporting U.S. sanctions on Venezuela — sanctions that deepen the economic crisis and directly harm the population she claims to defend — Machado displays a political calculation hard to reconcile with the moral authority the Nobel implies.
This is not a moral equivalence between Machado and Nicolás Maduro.
But it is necessary to acknowledge that their methods share uncomfortable similarities.
Maduro defended his tightening grip on power by claiming external threats; Machado now accepts that increased suffering under sanctions is a necessary step toward “future liberation.”
In both cases, internal hardship becomes an acceptable cost in the pursuit of political goals.
This “ends justify the means” logic is precisely what eroded the legitimacy of chavismo.
Maduro leaned heavily on foreign alliances to stay in power.
Machado, by dedicating her Nobel to Donald Trump and aligning herself with U.S. pressure strategies, steps onto similar ground: that of Latin American leaders who rely on external sponsorship to gain or maintain power.
It is an old pattern in the region:
leaders who claim to liberate their nations while binding themselves to external interests — left or right.
This leads to an uncomfortable question:
How different is Machado’s project from Maduro’s, when both justify internal sacrifice and seek strength abroad?
The Nobel was meant to mark a new chapter.
Instead, it has illuminated these involuntary convergences, raising doubts about her moral consistency.
Machado remains a courageous and central figure in Venezuela’s opposition.
But as long as she echoes methods she denounces, her ability to lead a genuine democratic renewal will remain uncertain — and at risk.
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Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.
11 de dez. de 2025

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