Dia dos Professores: Exaltação, Alerta e Esperança.
- Valéria Monteiro

- 15 de out.
- 3 min de leitura
Hoje celebramos os professores. E é justo que celebremos. São eles os guardiões da palavra, da escuta, do pensamento crítico. São eles que, mesmo diante do descaso ou da violência, continuam entrando em salas de aula — físicas ou virtuais — para plantar ideias, provocar dúvidas e ensinar a ler o mundo. São eles que, apesar de salários baixos, estruturas precárias e políticas públicas instáveis, insistem em educar.
Mas, mais do que flores e homenagens, este dia precisa ser também de reflexão.
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O estado da educação no Brasil
O Brasil enfrenta um paradoxo: enquanto se acumulam diagnósticos e propostas para melhorar a educação, os resultados seguem estagnados. A defasagem de aprendizagem após a pandemia ainda assombra as redes públicas, especialmente nas regiões mais vulneráveis. A evasão escolar entre adolescentes cresce. Os professores — já sobrecarregados — lidam com desvalorização social, agressões, adoecimento mental e falta de formação continuada.
O novo Plano Nacional de Educação (PNE) segue em debate, mas pouco se discute sobre como torná-lo exequível. A retórica do “futuro pela educação” ainda não se traduziu em investimentos robustos, políticas de longo prazo ou uma valorização real da profissão docente.
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Um mundo em transição
A educação global também enfrenta transformações radicais. A inteligência artificial, a automatização de funções e o avanço das tecnologias educacionais colocam professores diante de novos desafios. Qual o papel de um educador num mundo onde o ChatGPT responde com fluidez, plataformas adaptativas ensinam matemática melhor que um quadro-negro, e o TikTok disputa a atenção de crianças e jovens em tempo integral?
A resposta não está em competir com as máquinas, mas em afirmar com ainda mais potência o que é humano. A mediação crítica, a sensibilidade ética, a capacidade de despertar empatia e pensamento autônomo — tudo isso segue, e seguirá, sendo tarefa insubstituível do professor.
Mas, para que isso aconteça, é preciso investir. Na formação inicial, na formação continuada, na saúde mental e no reconhecimento simbólico e financeiro desses profissionais.
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Educar em um mundo que ameaça prescindir da educação
Mais grave ainda é notar que vivemos um tempo em que a própria ideia de educação como ferramenta de emancipação humana está sob ataque. O negacionismo científico, os revisionismos históricos, o discurso de ódio e a erosão do pacto democrático colocam a escola como um dos últimos bastiões da civilidade.
A humanidade ameaça prescindir da educação porque teme o que ela pode despertar: o senso crítico, a pluralidade, a capacidade de imaginar outro mundo possível.
Diante disso, o professor é, paradoxalmente, um dos últimos agentes da resistência. Sua presença em sala é um ato político. Sua escuta, um gesto revolucionário. Sua persistência, um testemunho ético.
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O que fazer a partir daqui?
Neste 15 de outubro, celebramos os mestres. Mas não basta celebrar. É hora de convocar.
• Convocar o Estado, para que abandone as promessas vazias e implemente políticas estruturantes.
• Convocar a sociedade, para que volte a respeitar a escola e quem nela ensina.
• Convocar as famílias, para que compartilhem a responsabilidade de educar.
• E convocar os próprios professores — não à resignação, mas à reinvenção. Que se apropriem das novas ferramentas, que exijam formação digna, que se reconheçam como agentes de futuro num tempo de tanto desencanto.
A educação não é custo, é investimento. O professor não é um técnico, é um pilar da democracia. E o conhecimento, mais do que nunca, é nossa melhor chance de sobrevivência.
Dia dos Professores: Exaltação, Alerta e Esperança.
Valéria Monteiro.
Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br
e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.



Parabéns pelo relevante texto. Como você imagina que poderíamos viabilizar essa convocação do Estado, dos próprios professores para atualizar o modelo educacional? Pessoalmente acredito que envolver as famílias seja fundamental para gerar engajamento e reduzir a distância que encontramos hoje entre ensino público e privado .