Fim de Semana em Família.
- Valéria Monteiro

- há 1 hora
- 3 min de leitura
Há fins de semana envoltos em silêncio, preguiça e maratonas de cinema. E há outros que chegam com risadas miudinhas, mãozinhas que tocam nosso rosto antes mesmo dos beijinhos de bom dia…
— Acorda, vovó! — bem cedinho.
Minha neta veio passar o fim de semana na vovó.
Brincamos o tempo todo. Pintamos obras de arte — e a cara uma da outra também — com tintas de dedo. Fazemos teatro, e a banheira vira o restaurante da dona Joaquina, que serve sucos de misturas esquisitas… Dançamos balé ao som de Bach e Mozart, e depois levantamos o volume do rádio para fazer uma festa. Passeamos pelo jardim da Alice, esse pequeno reino de orquídeas e moranguinhos silvestres. Estão maduros para comer? Devem ser deixados para compartilhar com os passarinhos? Molhamos as plantas juntas, com a mangueira brincalhona que insiste em molhar a gente também.
Há um abacaxi crescendo no vaso. Uma pequena promessa em forma de coroa.
— É para mim, vovó? Eu não gosto de abacaxi.
Sorrio um sorriso que sei que vai durar para sempre.
— É tudo para você e para mim.
No fundo, o jardim inteiro — plantas, morangos, tintas, risadas — existe para nos aproximar. É o cenário onde criamos memórias.
Nem tudo que se pode saborear é para comer; algumas coisas são para guardar.
Esse convívio nos une. Sinto a ocitocina correr quente, como se viesse direto do coração, misturando alegria, ternura e o reconhecimento silencioso de que ser avó é um privilégio enorme.
Quando papai e mamãe vierem buscá-la, a casa volta a quietar. Vou descansar as costas — porque um dia inteiro com a netinha exige esforço real para sustentar esta estrutura de amor que construímos. É um cansaço bom. Sagrado.
Não é fácil ser mãe ou pai dedicados, mesmo que procriar seja um instinto genético. Minha filha e meu genro carregam essa missão complexa, feita de cuidado constante, renúncia, atenção e escolhas diárias — e, de lambuja, me presenteiam com todo esse amor. Permitem que eu viva a experiência de ser avó de forma plena, profunda e luminosa.
No fim, família é isso: gerações que se encontram, laços que se fortalecem, cores, risos e memórias que se acumulam.
E eu, vovó, sou infinitamente grata.

____
Inglês:
Family Weekend.
There are weekends wrapped in silence, laziness, and movie marathons. And there are others that arrive with tiny giggles, little hands touching our face even before the good-morning kisses…
“Wake up, Grandma!” — at the crack of dawn.
My granddaughter came to spend the weekend with me.
We play all the time. We paint masterpieces — and each other’s faces as well — with finger paints. We put on plays, and the bathtub becomes Mrs. Joaquina’s restaurant, serving juices made of the strangest mixtures… We dance ballet to Bach and Mozart, and then turn up the radio to throw a party. We wander through Alice’s garden, that small kingdom of orchids and wild strawberries. Are they ripe enough to eat? Or should we leave them to share with the birds? We water the plants together, with the mischievous hose that insists on splashing us too.
There is a pineapple growing in a pot. A tiny promise shaped like a crown.
“Is it for me, Grandma? I don’t like pineapple.”
I smile a smile I know will last forever.
“It’s all for you and for me.”
In truth, the whole garden — the plants, the strawberries, the paints, the laughter — exists to bring us closer. It is the stage where we create memories.
Not everything that can be tasted is meant to be eaten; some things are meant to be kept.
This time together binds us. I feel the oxytocin running warm, as if it came straight from the heart, blending joy, tenderness, and the quiet recognition that being a grandmother is a tremendous privilege.
When Mommy and Daddy come to pick her up, the house grows still again. I will rest my back — because a whole day with a little granddaughter requires real effort to uphold this structure of love we’ve built. It’s a good kind of tired. Sacred.
It isn’t easy to be dedicated parents, even if procreation is a genetic instinct. My daughter and son-in-law carry this complex mission, made of constant care, sacrifice, attention, and daily choices — and, as a gift, they share all this love with me. They allow me to live the experience of being a grandmother fully, deeply, brightly.
In the end, that’s what family is: generations weaving into one another, ties growing stronger, colors, laughter, and memories piling up over time.
And I, Grandma, am infinitely grateful.
Fim de Semana em Família.



Comentários