O Instinto Materno é a Salvação da Humanidade?
- Valéria Monteiro

- 15 de ago.
- 3 min de leitura
O cientista que ajudou a criar a IA — e agora teme por nós.
Geoffrey Hinton, britânico-canadense, é um dos nomes mais importantes da inteligência artificial moderna. Psicólogo cognitivo e cientista da computação, foi pioneiro no deep learning, técnica que permitiu que máquinas reconhecessem padrões, interpretassem linguagem e criassem imagens e textos com fluidez.
Ganhou o Prêmio Turing (o “Nobel da computação”) e o Nobel de Física, trabalhou para empresas como a Google e formou gerações de pesquisadores. Mas, nos últimos anos, passou de arquiteto do avanço da IA a mensageiro de um alerta: a tecnologia que ajudou a criar pode escapar ao nosso controle — e até nos extinguir.
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O alerta e a metáfora que virou manchete.
Recentemente, Hinton estimou que há entre 10 % e 20 % de chance de que a inteligência artificial possa exterminar a humanidade nos próximos 30 anos. Mais do que números, o que chamou atenção foi a metáfora que usou para explicar o risco.
“Quantos exemplos você conhece de uma coisa mais inteligente sendo controlada por outra menos inteligente? Quase não existem. Há sim um exemplo: o de uma mãe e um bebê. A evolução trabalhou duro para permitir que o bebê controlasse a mãe, mas esse é, talvez, o único exemplo que conheço.”
— Geoffrey Hinton
A ideia é simples e inquietante: se quisermos controlar algo mais inteligente que nós, talvez precisemos criar um vínculo tão profundo quanto o que liga uma mãe ao seu filho.
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O que o instinto materno ensina à tecnologia.
Na natureza, o bebê é física e intelectualmente mais frágil, mas exerce uma influência decisiva sobre a mãe. Choro, contato, dependência: tudo aciona no corpo materno mecanismos hormonais e emocionais que garantem cuidado e proteção.
Esse “instinto materno” não é apenas amor; é um dispositivo biológico que transforma vulnerabilidade em poder. É a exceção à regra evolutiva em que o mais inteligente ou mais forte domina.
Hinton propõe que, se a IA se tornar mais inteligente que os humanos, o único caminho seguro para nossa sobrevivência seria criar um mecanismo análogo — algo que torne as máquinas intrinsecamente inclinadas a nos proteger, e não a nos descartar.
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É possível programar um instinto?
O desafio é que instintos maternos não surgem de linhas de código. Foram moldados por milhões de anos de evolução e dependem de química, afeto e repetição.
Na IA, não haverá nada disso a menos que seja construído de forma deliberada. Isso significaria:
• Incorporar valores humanos como objetivo central e não como acessório.
• Criar restrições de ação que não possam ser contornadas nem por um sistema mais inteligente.
• Estabelecer dependência funcional de humanos em funções críticas.
Não é apenas uma questão de programação: é uma questão de arquitetura ética e de governança global.
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A pergunta que fica
Se Hinton estiver certo, o “instinto materno” é mais do que uma metáfora — é uma estratégia de sobrevivência. A diferença é que, na relação mãe-bebê, a natureza fez o trabalho por nós. Na relação humano-IA, teremos que fazer sozinhos, rápido, e com a certeza de que não haverá segunda chance.
A pergunta que nos resta é se teremos tempo, sabedoria e cooperação suficientes para ensinar à IA o que a evolução ensinou às mães: que a vida que depende de nós é a razão de existirmos.
O Instinto Materno é a Salvação da Humanidade?



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