top of page

Quando os amigos dos nossos amigos viram nossos também.

Por muito tempo, eu achei que amizade era coisa de formação. Daquelas que a gente faz quando ainda acredita em tudo — inclusive nas pessoas. Escola, adolescência, família, colegas de trabalho que não nos irritam tanto… e pronto: estava feito o círculo. Como se depois de certa idade, o estoque de amigos estivesse fechado pra balanço. Mas não. A vida, essa debochada, vive provando o contrário.


A gente muda. Troca de pele, de cidade, de opinião. E quando muda de verdade, quando se desmonta um pouco, acaba abrindo espaço. E é nesse espaço que pode entrar gente nova — às vezes direto, às vezes por tabela. Um amigo te apresenta outro, e quando você vê, está dividindo confidência e garrafa de vinho com alguém que nem fazia parte da sua lista no mês passado.


E tem esse detalhe: o amigo que trouxe o outro, normalmente é quem mais sofreu. Foi ele que teve que encarar meu filtro de “ver pra crer”, minha cautela treinada, meu jeito de observar antes de confiar. Já o amigo do amigo… esse chega com um selo de “confiável por associação”. Ganha crédito afetivo sem precisar mostrar identidade. E surpreende.


Valéria Monteiro Jornalista

Porque aí acontece aquilo que não se explica direito: um comentário afiado, uma risada no tempo certo, um jeito de pensar que faz eco. A conversa engrena. A conexão acontece. A amizade nasce adulta — prática, direta, sem obrigação de dar certo, mas com vontade real de continuar.


E às vezes, esse “amigo do amigo” se torna alguém essencial. Porque, no fim das contas, o que importa não é se o amigo é antigo ou recente. Aliás, tem amigo que é mais antigo na alma do que na cronologia. Pode até ter chegado ontem, mas já te conhece num lugar que os outros ainda estão tentando mapear.


Um amigo mais antigo… que pode muito bem ser novo também.


O negócio é se deixar levar. Baixar o tom da vigilância e subir o volume da escuta. Não exigir que a amizade tenha currículo, mas sentir se tem verdade. E quando tem, ah… a floresta cresce.


De galho em galho, de risada em risada, de afeto em afeto, você percebe que está numa festa. Uma festa espontânea, viva, bonita — na floresta de amizades improváveis. E sinceramente? Que sorte ainda poder ser surpreendida.


Quando os amigos dos nossos amigos viram nossos também.

Valéria Monteiro.

Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br

e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

 
 
 

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page