top of page

O grito preso nas nossas gargantas.

No plenário, ressoou um sentimento que atravessa silencioso o país: “Nós estamos com problema com aqueles que falam que vão obstruir 24 horas por dia para não votar mais nada.” Não é apenas a denúncia de uma manobra regimental, mas a tradução de um mal-estar coletivo. Uma política sequestrada por minorias barulhentas, que sobrevivem do tumulto e do desgaste, mantém a nação refém de crises fabricadas.


O desabafo veio em tom seco: “Então, está impossível.” Duas palavras que condensam o cansaço de uma sociedade obrigada a conviver com a paralisia institucional e com o veneno da radicalização que atravessa lares e amizades. O impossível não é só governar: é também manter o convívio social quando a lógica da destruição mútua se impõe sobre qualquer tentativa de diálogo.


A indignação se ampliou ao atravessar fronteiras: “Não dá para eu ver todos os dias … um deputado federal do Brasil, eleito pelo povo de São Paulo, lá nos Estados Unidos instigando um país contra o meu país.” A crítica direta a Eduardo Bolsonaro deu corpo institucional a um incômodo já difuso. Não se trata de disputa partidária, mas do choque ético de ver representantes eleitos atuarem em favor de projetos pessoais, ainda que isso implique fragilizar o próprio Brasil.


E o limite soou como alerta: “Não dá para aceitar todas essas agressões calado.” Não é apenas um chamado ao respeito entre poderes. É a constatação de que a democracia não sobrevive se se resumir a insultos e ameaças. Silenciar diante das agressões seria aceitar que a política se reduzisse a trincheiras.


O que emergiu naquele discurso foi mais do que uma bronca parlamentar. Foi o reflexo de uma sociedade saturada de caos, de imoralidade e de abuso. O grito preso nas nossas gargantas encontrou, enfim, uma voz no Senado. Resta saber se esse eco será suficiente para recuperar a maioria silenciosa que deseja apenas o que hoje parece revolucionário: normalidade, diálogo, estabilidade.

Eduardo Bolsonaro em encontro com Donald Trump

Inglês:

The Cry Stuck in Our Throats


In the Senate chamber, a feeling that quietly runs through the country finally echoed aloud: “We are facing a problem with those who say they will obstruct 24 hours a day so that nothing else gets voted on.” It was not just a complaint about parliamentary maneuvers, but the translation of a collective malaise. Politics, hijacked by noisy minorities who thrive on turmoil and weariness, holds the nation hostage to fabricated crises.


The outburst came in stark tones: “So, it’s impossible.” Two words condensed the exhaustion of a society forced to endure institutional paralysis and the poison of radicalization that seeps into homes and friendships. What has become impossible is not only governing, but also sustaining social bonds when the logic of mutual destruction overshadows any attempt at dialogue.


The indignation grew as it crossed borders: “I cannot stand seeing every day… a federal deputy from Brazil, elected by the people of São Paulo, in the United States instigating a country against my country.” The direct criticism of Eduardo Bolsonaro gave institutional weight to a discomfort already diffused across public opinion. This is not about partisan rivalry, but about the ethical shock of watching elected representatives act in favor of personal power projects, even if that means weakening Brazil itself.


The warning reached its limit in another phrase: “It is unacceptable to remain silent in the face of all these aggressions.” This is not just a call for respect among institutions. It is the recognition that democracy cannot survive if reduced to insults and threats. To remain silent in the face of aggression would be to accept that politics is nothing more than a battlefield.


What emerged that day was more than a scolding of fellow parliamentarians. It was the reflection of a society saturated with chaos, immorality, and abuse. The cry stuck in our throats finally found a voice in the Senate. The question that remains is whether this echo will be strong enough to restore the silent majority that longs for what now seems revolutionary: normality, dialogue, stability.


O grito preso nas nossas gargantas

Valéria Monteiro.

Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br

e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page