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Pode falar?Um novo manual de etiqueta para ligações no WhatsApp.

Áudio Pode Falar? Um novo manual de etiqueta para ligações no WhatsApp. Valéria Monteiro

📍 Scroll down for English version.


Antes, a gente batia à porta. Agora, vibramos na tela de alguém.


Receber uma chamada de WhatsApp sem aviso pode parecer banal, mas o impacto é real: interrompe reuniões, corta gravações, dispersa o pensamento de quem tenta apenas trabalhar. O que antes era só telefone virou câmera, escritório, palco. E uma ligação inesperada soa como alguém invadindo a cena no meio do ato.


O tempo saiu da parede


No mundo pré-smartphone, as ligações vinham dos fixos — os da sala, do trabalho, dos orelhões da rua. Havia um certo ritual: escolher a hora, esperar a pessoa estar em casa, deixar recado com alguém — ou na secretária eletrônica.


Sim, elas existiam. Gravavam recados com aquela voz metálica pedindo para falar após o sinal. E a gente gravava também a saudação — às vezes bem-humorada, criativa, até poética. Era uma tentativa de humanizar a ausência.


Com o tempo, vieram os correios de voz nos celulares — os voice-mails que ainda estão lá, embora eu nunca acesse.

A conexão se tornou constante, mas a escuta rareou.

Queríamos nos aproximar.

Acabamos colados demais. Tão conectados que ficou desumano.


Quando o celular virou estúdio


Hoje, uma chamada não combinada pode ser altamente disruptiva. Muita gente grava, transmite, dá aula ou participa de reuniões diretamente do celular. O WhatsApp virou ferramenta de trabalho, criação e performance.


Uma ligação inesperada pode travar um app, derrubar uma live, quebrar o raciocínio. É como invadir uma reunião — ou um palco.


O toque que não toca mais


Ligar, que já foi gesto de cuidado, hoje pode soar invasivo. Estar online não é estar disponível. Às vezes, a ligação sem aviso revela mais ansiedade do que consideração. A urgência de quem chama se impõe ao tempo de quem recebe.


Evitar isso é simples. Basta perguntar:


“Pode falar agora?”

“Tá num momento tranquilo pra uma ligação?”

“Posso te ligar rapidinho?”


Pedir licença nunca saiu de moda — mesmo que a porta seja digital.


Etiqueta é empatia


Não se trata de rigidez, mas de respeito. Saber quando mandar um texto, deixar um áudio ou sugerir uma ligação é uma forma de inteligência emocional — e de elegância.


Quem respeita o tempo do outro inspira confiança. E humanidade.


Nem toda ligação é um gesto de cuidado. Às vezes, é só urgência mal gerida.


A tecnologia não muda quem somos. Amplifica.

Se usarmos os meios digitais com o cuidado que esperamos dos outros, talvez o WhatsApp — e a vida — fiquem mais leves. Mais humanos.


Então, antes de apertar o botão verde… pergunte.

Pode falar?Um novo manual de etiqueta para ligações no WhatsApp.

Inglês:


📵 Can I call you?


A new etiquette for WhatsApp voice calls


We used to knock. Now we buzz on someone’s screen.


Getting a WhatsApp call without warning may seem trivial, but it can break focus, interrupt meetings or crash recordings. Phones are no longer just phones — they’re cameras, studios, offices, stages. An unexpected call is like barging in mid-performance.


Time left the wall


Before smartphones, we called from landlines — home, work, public phones. There was a ritual: choosing the moment, hoping someone was home, leaving a message — with someone or on the machine.


Yes, answering machines. They recorded after the beep. And we recorded our greetings too — sometimes witty, creative, even poetic. It was a way to humanize absence.


Then came mobile voice-mails — still there, though I never check mine.

Connection became constant.

Listening, rare.

We wanted to get closer.

We got too close. So connected it turned inhuman.


When your phone becomes a studio


Today, an unplanned call can be deeply disruptive. Many people record, teach, meet or stream directly from their phones. WhatsApp is a tool for work and creation.


An unexpected call can freeze an app, crash a live, shatter concentration. It’s like walking into a meeting — or a performance — without knocking.


The ring that no longer rings


Calling used to be caring. Now, it can feel intrusive. Being online ≠ being available. Sometimes, the caller’s urgency drowns out the receiver’s reality.


The fix? Just ask:


“Can you talk right now?”

“Got a second for a quick call?”

“Mind if I give you a ring?”


Asking before entering never went out of style — even when the door is digital.


Etiquette is empathy


It’s not about rules. It’s about respect.

Knowing when to text, voice, or call is emotional intelligence. And elegance.


Those who respect others’ time tend to earn trust. And human connection.


Not every call is care. Sometimes, it’s unmanaged urgency.


Technology doesn’t change us — it magnifies us.

If we use digital tools with the same care we wish to receive, maybe WhatsApp — and life — will feel lighter. And more human.


So before you hit the green button… ask first.


Pode falar?Um novo manual de etiqueta para ligações no WhatsApp.

Por Valéria Monteiro.

Jornalista, fundadora do site valeriamonteiro.com.br

e ex-âncora da TV Globo e Bloomberg.

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